Sobre Ética e Imprensa

1 fev

A importância de uma conduta louvável por parte dos meios de comunicação é destacada no livro que comenta e explica a ausência de preceitos éticos na imprensa

Em Sobre Ética e Imprensa, Eugênio Bucci, jornalista e doutor em comunicação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, escreve sobre sua preocupação em relação ao exercício da ética no jornalismo. O livro fala a respeito do antagonismo entre os termos ética e imprensa em meio à atual cobiça por audiência e lucro por parte dos meios de comunicações. Em Ética e Imprensa, Bucci busca comprovar a necessidade de uma relação direta entre ambos os termos.

No livro, o autor apresenta uma reflexão acerca do verdadeiro papel da imprensa, afirmando que esta, na busca por audiência e lucro, deixa de criar nos leitores, telespectadores, ouvintes e internautas ideias capazes de estilular uma reflexão crítica dos assuntos que cercam o mundo. Para isso, Bucci propõe uma peculiar definição para o termo “ética”. Para ele, “ética”, é a capacidade de escolha entre o “bem” e o “bem” ou entre o “mal” e o “mal”, de acordo com a vontade populacional.Dessa forma, Eugênio Bucci trata a ética como indicador daquilo que é mais justo ou menos injusto diante de possíveis escolhas que podem afetar uma sociedade.

Eugênio Bucci analisa, principalmente a questão da ética nos meios de comunicação, uma vez que os jornalistas vem reuzindo sua conduta ética na profissão, que seria, oferecer ao público informações de qualidade e de credibilidade, em detrimento da concorrência diária por por audiência e pela necessidade de anunciar um fato antes da concorrência. Além disso, aquestão da ética é tema de preocupação do autor do livro, uma vez que o monopólio das empresas de comunicação instalou o domínio do espetáculo e do entretenimento nas redações jornalísticas.

São através de exemplos práticos que Bucci explica como as atitudes éticas podem ser aplicadas. O autor aborda, por exemplo, a ética na imprensa de acordo com as especificidades e necessidades de cada meio de comunicação, como jornais impressos, revistas, telejornais, radios e internet. Também, apresenta exemplos capazes de expor sua preocupação em relação à imprensa. O episódio no qual o Jornal Nacional da Rede Globo exibiu uma reportagem sobre a comemoração do aniversário de São Paulo em 25 de janeiro de 1984, quando, na verdade, o motivo da reunião populacional em plena Praça da Sé era um comício pelas “Diretas Já”, é um exemplo dessa inquietação.

Bucci ainda trata sobre as diferenças entre mídia e imprensa. Dessa forma, explica como a mídia, dominada por interesses empresariais e caracterizada pelo entretenimento e ficção, interfere na imprensa, comprometendo a transmissão factual das informações. Determinado pelos preceitos midiáticos, o texto jornalístico passa a sensacionalizar, omitir e distorcer acontecimentos de interesse popular, deixando de exercer sua função de informar e democratizar.

Como ressaltou Bucci, além dos interesses econômicos e midiáticos, a imprensa também recebe influência dos vícios e virtudes de seus profissionais. Nesse contexo, o autor apresenta os sete pecados capitais do jornalismo: a distorção deliberada ou  inadvertida, o culto das falsas imagens, a invasão da privacidade, o assassinado de reputação, a superexploração do sexo, o envenenamento das mentes infantis e o abuso de poder. Vale dizer que, é através desse pecados, que Bucci descreve como seria o “jornalismo perfeito”. Para ele, o repórter ideal seria aquele que não apresentasse qualquer ideologia pré-estabelecida, garantindo, assim, a imparcialidade completa. Nesse contexto, o autor chama lembra que nem sempre é possível oferecer a verdade irrevogável ao leitor, porém, lembra que isso não impede  a transmissão de informações confiáveis, uma vez que o leitor não espera um jornalismo infalível, mas sim informações confiáveis.

Em seu livro, Eugênio Bucci buscou tratar o tema de forma acessível de modo que o público comum, o maior interessado em informações de credibilidade, pudesse refletir sobre o assunto. Dividido em cinco capítulos, o autor abre o livro questionando o sentido de se falar em ética na imprensa e, apesar de não esclarecer uma resposta definitiva, faz questão de ressaltar que considerá-la uma discussão sem importância significa o mesmo que ignorar o compromisso com o público. Sobre Ética e Imprensa faz refletir sobre a necessidade da discussão sobre a ética na imprensa e sobre a importância de mudanças práticas na atuação dos jornalistas. O livro apresenta-se como um elemento importante para o profissional da comunicação e para leitores interessados numa imprensa de creedibilidade e comprometida com os fatos.

 

Turismo de estudantes

1 fev

Poder estudar fora é uma oportunidade que não deve ser dispensada. É uma experiência única na qual o estudante entra em contato com outras culturas, aprende ou aperfeiçoa um segundo idioma, além de ganhar amadurecimento pessoal e profissional. O preparo de uma viagem, porém, exige muitos detalhes que devem ser acompanhados de perto por aquele que vai viajar. O primeiro ponto a ser considerado é o tipo de curso que deseja fazer e o segundo, a escolha do país e o tempo de duração do intercâmbio.

É ideal que o estudante pesquise qual país possui as melhores escolas e cursos na área. Fatores como cultura, clima, metodologia da escola e o câmbio da moeda são de extrema importância e também devem ser levados em consideração.Para escolher a escola, é necessário verificar se ela é registrada e certificada por órgãos educacionais.

A reserva do curso deve ser feita antecipadamente para garantir a vaga do estudante. Além disso, o fechamento da viagem deve ser realizado com antecedência para que haja tempo de preparar as malas e documentos. É preciso ficar atento, pois muitos países exigem documentos burocráticos de permissão de entrada no país. Além disso, o estudante precisa estar preparado para encarar as temperaturas frias ou quentes demais, características dos países mais requisitados pelos interessados.

A escolha da hospedagem é, também, um quesito que exige cuidados especiais. O lugar tem ser confortável, seguro e, de preferência, oferecer possibilidades de refeições. Existem várias alternativas de hospedagens. As mais solicitadas e confiáveis são as casas de família e as residências estudantis. Nas casas de família, o estudante ocupa um quarto alugado e participa das atividades diárias da família. Em geral, nessas casas, as refeições são inclusas no pacote e o contato do estudante com a cultura local é bastante intenso. As residências estudantis são indicadas para curso de pouca duração e para jovens com idade superior a 18 anos. Nelas, o estudante tem a oportunidade de dividir quartos com outros alunos e conhecer a cultura de diversos países.

Tudo isso tem que ser analisado levando em conta os gastos para que os investimentos sejam realmente válidos.  Além do dinheiro para as passagens, hospedagem, alimentação, curso e transporte, o estudante deve reservar um dinheiro extra para passeios do dia-a-dia. Conhecer cidades e viajar dentro do país fazem parte dos programas de intercâmbio e são importantes para o conhecimento cultural do aluno.

A melhor opção para quem deseja fazer esse tipo de viagem é através da contratação do serviço de agências especializadas. As agências são mais confiáveis e garantem uma viagem tranqüila e bem sucedida. Elas oferecem inúmeras opções de lugares, hospedagem e escolas confiáveis, além de dar dicas sobre cultura, gastos e passeios no país escolhido. Além disso, quando o estudante já estiver em outro país, a agência continuará auxiliando caso ocorra algum problema.

É uma experiência que só traz benefícios para o estudante. Existem inúmeras opções de programas de estudos. Elas variam entre curso de idiomas, colegial e trabalho remunerado ou voluntário acompanhado de estudos. A duração varia de semanas a anos, de acordo com o desejo e necessidade do estudante. É possível programar uma viagem com custos acessíveis adequados às condições do interessado.

 

Pelas mãos de Ruy Castro, a história de um anjo pornográfico

1 fev

“Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico”.

O Anjo Pornográfico: A História de Nelson Rodrigues, de Ruy Castro, traz em detalhes momentos da vida e fatos que cercaram a criação das obras de Nelson Rodrigues. Para contar a história real desse importante jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro, o autor realizou inúmeras entrevistas com cerca de 125 pessoas que conheceram e se relacionaram intimamente com Nelson e sua família. O Anjo Pornográfico traz a reconstrução de uma história capaz de emocionar, divertir e chocar.

Nelson Rodrigues é reconhecido por introduzir o modernismo no teatro brasileiro e pela capacidade de expor em seus textos as mazelas do cotidiano da sociedade brasileira. Além disso, seus escritos estamparam páginas dos principais jornais do país e até hoje surpreendem os interessados em sua obra. Por isso, não é difícil entender o interesse de Ruy Castro em desvendar os segredos dessa importante figura, que por muitas vezes foi julgado como reacionário, louco, gênio e tarado.

O Anjo Pornográfico prioriza as descrições minuciosas dos episódios da vida do escritor, fazendo o leitor entrar na expriência vivida pelo biografado. O autor cumpre essa tarefa com mérito, principalmente pela preocupação em apresentar o contexto histórico no qual Nelson encontrava-se inserido. Durante a narrativa, o autor expõe os acontecimentos políticos, artísticos, culturais e econômicos da história do Brasil, relacionando-os com as histórias da vida privada de Nelson Rodrigues. Na Revolução de 30, por exemplo, com a vitória de Getúlio Vargas, Crítica, jornal do pai de Nelson, foi invadido e fechado.

A maneira como Ruy Castro escreve seu livro permite perceber e sentir que a vida de Nelson Rodrigues foi mais agitada que qualquer uma de suas “cabulosas” histórias como “Vestido de Noiva” e “A vida Como ela É”. As desventuras da família Rodrigues influenciaram a obra de Nelson: a tragédia, a religião e a pornografia, constantes no seu cotidiano, marcam o trabalho do escritor que frequentemente usava amigos, vizinhos e amores em suas obras. Episódios como a morte dos irmãos e do pai, a tuberculose, as crises financeiras, por exemplo, explicam a criatividade dramática derivada das experiências de vida do biografado.

Além disso, O Anjo Pornográfico apresenta parte da história da imprensa e do jornalismo brasileiro da qual Nelson Rodrigues e sua família fizeram parte. Mário Filho, jornalista e pai de Nelson, foi fundador e dono de dois jornais brasileiros: A Manhã e Critica. Aos 13 anos em A Manhã, Nelson iniciou sua carreira jornalística na seção policial. Mais tarde, colaborou com veículos como Correio da Manhã, Última Hora, Jornal dos Sports, Manchete Esportiva, Jornal do Brasil, O Globo, entre outros. Neles, escrevia crônicas, contos, folhetins, artigos opinativos e comentários esportivos, unindo o jornalismo e a literatura de uma maneira que somente Nelson Rodrigues sabia fazer. Ruy Castro, em seu livro seleciona e conta importantes passagens de Nelson em cada um dos veículos, já que o jornalismo foi o responsável por importantes mudanças importantes em sua vida.

As 464 páginas de O Anjo Pornográfico oferecem uma leitura fluída e prazerosa, especialmente pela maneira clara e leve como o autor escreve. Além disso, os capítulos do livro, escritos em 3ª pessoa, terminam sempre com uma referência ao capítulo seguinte, mantendo assim o interesse e curiosidade do leitor que é estimulado a ler as próximas páginas. O texto é rápido e dinâmico, uma vez que as histórias, além de interessantes, são contadas em ordem cronológica e relacionadas durante os capítulos. O simples fato de o livro contar a história de Nelson Rodrigues, um brilhante e incompreendido jornalista, dramaturgo e escritor brasileiro, já se constitui num grande motivo para se escolher a leitura de O Anjo Pornográfico.

 

A PRIMAVERA – EURÍDICE COLHENDO FLORES É MORDIDA POR UMA COBRA, DE EUGÈNE DELACROIX

15 out

EXERCÍCIO DE DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA TELA:

No quadro “Primavera: Euridice colhendo flores é mordida por uma cobra”, de Eugène Delacroix, o que mais chama atenção, à primeira vista, é a presença de três mulheres jovens numa paisagem pouco nítida composta por montanhas e floresta.

Uma das mulheres do quadro, especificamente a que se encontra no segundo plano da pintura, no quadrante inferior direito, veste um vestido azul acompanhado de um manto avermelhado. As pernas da moça estão inteiramente cobertas, deixando apenas seus pés à mostra, e o braço apresenta-se totalmente descoberto pela manga regata do vestido. No cabelo loiro, quase ruivo, há um enfeite. Ela está apoiada sobre o joelho direito e leva na mão uma cesta que está virada, de modo que deixa parecer que as coisas que levava nela, suponho flores, estão caindo no chão. A moça leva consigo uma expressão de espanto e tristeza e seu rosto, em relação ao corpo, está posicionado para a direita com olhar dirigido às outras duas mulheres que compõe a figura. A cesta caída, somada à expressão do rosto já descrita, transmite a sensação de que ela está assustada com a situação que se passa com a mulher para qual está olhando.

Mais à frente, num relevo mais baixo da montanha, no centro e no primeiro plano da tela, há outra mulher, também, trajando um vestido drapeado azul que contorna sua cintura por meio de uma faixa marrom e que deixa seus joelhos e parte da coxa à mostra. Os braços dela também ficam descobertos devido à manga curta e modesto decote do vestido. Sua roupa ainda traz uma espécie de meia que não cobre os dedos descalços e um enfeite no cabelo aparentemente “chanel” e castanho. Essa mulher está de pé e sua perna esquerda posicionada à frente da direita. Seu braço esquerdo encontra-se elevado e o direito segurando o braço direito de outra mulher que está na pintura. O rosto da moça traz uma expressão de medo, surpresa e alarme misturado com melancolia e depressão e está virado para o lado esquerdo e para baixo. A explicação para a posição e expressão dessa mulher pode ser explicada pela figura que aparece atrás dela: uma cobra.

A cobra é, aparentemente, uma naja de cor marrom avermelhada. A naja encontra-se em posição de “bote”, como se fosse levantar-se. O quadro não traz a pintura do “corpo” inteiro da cobra, deixando a impressão de que a parte que falta está escondida na vegetação e que o réptil pegou sua “vítima” de surpresa ou que, como a serpente estava sob a vegetação, a jovem não a viu e “tropeçou” nela. A naja está posicionada na altura da cintura da moça morena de vestido azul e, por meio da expressão dela, pode-se deduzir que a cobra está picando a mulher. Através dessa “cena”, pressupõe-se que a moça que está sendo picada pela cobra constitui-se na “protagonista” do quadro. Para mim, ela é Eurídice a quem o nome do quadro se refere. Essa é, também, a ação que permite uma interpretação mais profunda e aprimorada da pintura.

Como já mencionado, à frente da mulher de vestido azul, também no primeiro plano da tela e no quadrante inferior esquerdo, há outra jovem. Esta, por sua vez, encontra-se abaixada e apoiada sobre o joelho esquerdo e com a perna direita flexionada. A coxa direita aparece quase totalmente. O braço direito traz um bracelete e está sendo segurado pela mulher que a cobra picou e a mão esquerda carrega uma muda de flores. Esta moça veste uma saia drapeada num tom marrom alaranjado e a parte de cima do vestido, de cor azul clara, está caindo em seus braços, deixando os seios à mostra. Vale aqui dizer que essa parte da tela une e contrapõe, de certa forma, o erotismo (dos seios amostra) e a morte (pela picada da cobra). Ainda, a moça à qual é dedicado esse parágrafo, possui cabelo longo cacheado e castanho claro num tom que se aproxima do loiro e carrega enfeites. Seu corpo está curvado para a esquerda e o olhar acompanha a inclinação do corpo para o lado esquerdo, diferente do seu olhar o qual se dirige à mulher de azul que está segurando seu braço. A expressão que ela traz no rosto indica espanto, incompreensão e desalento.

Essa parte descrita da pintura traz a sensação de que uma das moças – a segunda descrita – assustou-se com a picada da serpente e, por isso, num impulso, puxou vorazmente e intuitivamente a moça que se encontrava mais próximo a ela. Dessa forma, é possível explicar a posição da terceira moça descrita: ela aparenta perder o equilíbrio e cair após o “empurrão”. Ainda, devido a esse empurrão, parte da roupa da moça saiu, despindo-a.

Conclui-se, portanto que as moças da tela são jovens e bonitas e que Delacroix dedicou-se à pintura das faces e expressão das personagens para passar a mensagem que desejava: aflição, tristeza e desespero motivada pela possível morte e dor causada pela picada da naja. Após a observação desses quatro elementos – mulheres e serpente – que mais chamam atenção numa primeira observação da pintura, percebe-se a presença de outro elemento bastante significativo e sugestivo para a descrição e interpretação da pintura.

No quadrante inferior esquerdo e, ao meu ver, no segundo plano, entre uma muda de plantas e abaixo de uma árvore que marca presença na tela, há um homem pequeno que, quando comparado com a mulher picada pela naja, apresenta-se na altura do joelho da moça. Metade do corpo do homem pequeno está escondido entre as plantas. Além disso, ele veste uma espécie de túnica vermelha e carrega no braço direito, como se estivesse guardando, protegendo e abraçando, uma arpa amarela ou dourada, considerada por ele muito valiosa. O braço esquerdo do homem encontra-se esticado e, pelas formas da pintura, percebe-se seu corpo atlético. Sua face expressa desespero, dor, sofrimento, inconformismo, tristeza e espanto. É importante dizer que essa figura permite uma interpretação mais elaborada do quadro: o fato de o pintor tê-lo pintado em tamanho pequeno indica a pequenez do homem forte e guerreiro que não pode tomar nenhuma atitude contra a picada da cobra. A expressão de seu rosto também permite essa interpretação e, quiçá, admite afirmar que o homem pequeno não se conforma com o fato de não poder proteger a moça pela qual estava apaixonado – a que se encontra sob efeito do veneno da serpente. Vale aqui uma observação: o fato de o homem pequeno estar localizado no segundo plano da tela, quando levada em consideração sua importância no conjunto da obra, passa a impressão de que ele não deveria estar naquela cena, como se ele fosse uma espécie de anjo que acompanha Eurídice sem ela saber e que sua arpa é um instrumento “mágico, único capaz de salvá-la.

No quadrante inferior direito há um tronco e uma muda de flores, da qual pode-se deduzir que a mulher cujo tronco aparece sem roupa estava colhendo as flores que carrega na mão esquerda. Agora, depois de melhor analisar o quadro, posso afirmar que a cesta da primeira jovem descrita está virada no chão para representar o susto que esta tomou ao ver a cobra picando sua companheira, como se ela tivesse derrubado a cesta no chão.

No que diz respeito à paisagem de fundo da pintura, para desvendá-la, não basta um primeiro olhar; é preciso observar a pintura com calma e atenção. Um rápido olhar no desenho não é suficiente para entender profundamente o que o Delacroix pintou no terceiro plano, mas à primeira vista, percebe-se que ao fundo há montanhas e vegetação, porém, nada muito nítido. Uma observação mais cautelosa permite concluir que a intenção do autor, levando-se em consideração a interpretação da obra como um todo, foi justamente pintar uma paisagem dramática – e a forma como ele encontrou para fazê-la foi por meio de uma pintura “embaçada”. Essa paisagem embaçada e esfumaçada também reforçam o efeito de profundidade da tela. Essa paisagem, da qual não é possível depreender os detalhes, apresenta como cores principais o verde, o azul e o marrom. É visível o cuidado do pintor em relação aos tons das referidas cores de modo que elas transmitem uma impressão bastante real da paisagem: relevos, plantas diferentes e de cores diferentes, formato das pedras, montanhas ao fundo e céu, como presente, por exemplo, no quadrante superior direito. Ainda, entre as pedras e árvores que formam uma montanha na paisagem, também no quadrante superior direito, há um elemento que não consegui identificar, nem mesmo após observação cautelosa (talvez seja outra muda de flores, ou talvez seja um animal, já que se trata de uma floresta). A árvore “principal”, localizada no segundo plano e no quadrante inferior esquerdo, debaixo da qual localiza-se o homem pequeno, também causa essa impressão, já que traz uma pintura de cor diferente entre as folhas e o tronco, porém não foi possível decifrar o elemento. Vale destacar que a grama é apresentada num tom verde claro suave, sendo as partes com tons verde escuro representantes das mudas mais volumosas e altas, sem esquecer que os pontos claros representam as flores da paisagem.

Por fim, cabe uma análise do estilo de pintura da tela. Num exame “grosseiro”, posso dizer que Delacroix pintou o quadro em pinceladas rápidas dispostas em curvas, especialmente na paisagem, com exceção da pintura das pessoas que apresentam maiores detalhes e delicadesa. Esse estilo de pincelada também reforça o aspecto turbulento e tortuoso da situação representada no quadro.

MITO DE ORFEU E EURÍDICE

O mito de Orfeu e Eurídice inspirou artistas ao longo do tempo e tais representaçõs tornaram possível o contato com diferentes linguagens da História da Arte. Poetas, pintores e escultores tentaram representá-lo, cada um de acordo com seu estilo, como fez Delacroix. Nesse contaxto, segue abaixo o mito que inspirou a tela Eurídice Colhendo Flores é Mordida por uma Cobra, de Eugène Delacroix:

Orfeu é filho da musa Calíope e do deus Apolo, que o presenteou com uma lira. Considerado o mais talentoso entre os músicos, quando Orfeu tocava, os pássaros paravam para escutar, os animais selvagens perdiam o medo e as árvores se curvavam para pegar os sons que o vento trazia. Orfeu apaixonou-se pela bela Eurídice e com ela se casou. A beleza da moça, porém, despertou o interesse de outro homem, Aristeu, o qual passa a perseguir Eurídice. Ela foge e, durante a fuga, tropeça em uma serpente. O animal pica Eurídice, que morre sob o efeito do veneno.

Orfeu então, desesperado, vai até o mundo dos mortos com sua lira para resgatar Eurídice. A canção amociona e convence o barqueiro a levá-lo ao encontro da amada. Sua canção ainda faz adormecer o cão de três cabeças responsável pela entrada do mundo inferior. Hades, o deus do submundo, fica muito irritado ao ver um vivo no mundo dos mortos, mas a música de Orfeu também o comove. Ele consegue a permissão de Hades para resgatar Eurídice, porém impõe uma condição: ela poderia sair seguindo Orfeu, entretanto ele só deveria olhar para ela novamente quando estiveressem à luz do sol. No caminho para fora do mundo inferior, Orfeu segue olhando para frente, até que, no intuinto de certificar-se de que Eurídice estava o seguindo, olha para trás e perde sua amada para sempre.

 

SOBRE O AUTOR:

É considerado um grande, e até o mais importante, pintor do romantismo e um dos principais pintores modernos. Com uma sólida formação musical e literária, decidiu dedicar sua vida à pintura. Delacroix, que viveu numa época de convulsões e mudanças, converteu-se em paladino da liberdade, tanto na arte e política quanto nos costumes. “A Liberdade Guiando o Povo” é sua obra mais conhecida.

Delacroix nasceu em 26 de abril de 1798 na cidade de Charenton-Saint-Maurice na França. Filho de um ministro da república que havia votado a favor da execução de Luís XVI no ano de 1793, Delacroix pertencia a uma família de grande prestígio social e, por isso, quando jovem, teve a oportunidade de frequentar colégios parisienses renomados (há, porém, historiadores que defendem que que seu pai teria sido o príncipe Talleyrand, seu mecenas). Quando tinha apenas sete anos seu pai faleceu e, então, ele passou a viver em Bordeaux, retornando a Paris alguns meses mais tarde na companhia de sua mãe. Após a morte da mãe, em 1814, Delacroix passou a viver na com sua irmã Henriette.

Nessa época, inscreveu-se como aprendiz no estúdio de Pierre-Narcisse Guérin, famoso pintor daquela época, marcando sua iniciação no estudo da pintura. Além disso, Delacroix também frequentava aulas de música no Conservatório de Paris. Mais tarde, ingressou na École des Beaux-Arts (Escola de Belas-Artes), onde conheceu Theodore Géricaul, um grande pintor que, mais tarde, lhe exerceria grande influência na dramaticidade, na maneira inovadora de usar as cores e na escolha de temas políticos para suas telas – diferentemente do que acontecia com os artistas clássicos e acadêmicos. Também, Eugène Delcroix foi bastante influenciado pelos trabalhos intensos e dramáticos de Rubens, pelas paisagens do inglês John Constable e pelos poemas de Lord Byron, cujos temas transportou para diversos trabalhos: começava alí uma produção artística que só teria fim com sua morte, 48 anos depois.

Sob influência do realismo romântico de Géricault, Delacroix expôs no Salão de 1822 a tela “Dante et Virgile aux enfers (“A barca de Dante”, comprado por Luis XVIII). A obra recebeu críticas positivas e negativas e a polêmica em torno dela só foi amenizada quando, no Salão de 1824, apresentou “Scènes des massacres de Scio” (“O massacre de Quios”, adquirido por Carlos X), na qual representou episódios dramáticos da guerra da independência da Grécia contra a Turquia. Vale dizer que, após observar em Londres obras de Bonington e de John Constable, Delacroix refez  o quadro “Scènes des massacres de Scio”, dessa vez realçando o colorido e separando as pinceladas. Por volta de 1827, o rei Felipe encomendou vários quadros de sua autoria, como a “Conquista de Constantinopla pelos Cruzados”.

A partir de então, Delacroix transformou-se no “alvo principal” dos acadêmicos da Escola de Belas Artes, adepta do neoclassicismo de David e Ingres. Ingres era o principal mestre conservador na primeira metade do século XIX e, na arte, seu adversário era Delacroix, que não gostava de conversar a respeito dos gregos e romanos e da insistência no desenho correto e na imitação de estátuas clássicas. Ingres e sua escola cultivavam o Estilo Grandiloquente e admiravam Poussin e Rafael e Delacroix o chocava ao preferir Rubens e os Venezianos. Eugéne acreditava que, na pintura, a cor era muito mais importante que o desenho e que a imaginação era mais importante que o saber.  Mais tarde, em 1827, com a tela “La mort de Sardanapale” (“A morte de Sardanápalos”),  de composição muito movimentada e cores vivas, passou a ser considerado o chefe da escola romântica francesa de pintura.

Comovido com os acontecimentos políticos de julho de 1830 e no intuito de manisfestar maior participação em relação aos temas políticos da França do momento, Delacroix pintou “A Liberdade guiando o povo”, hoje exposta no Museu do Louvre. “A Liberdade Guiando o Povo” (1831), é a obra mais famosa do pintor e foi um sucesso porque prestou glórias à democracia e à revolução que em 1830 havia colocado Luís Felipe no poder. Na ocasião, a obra foi imediatamente adquirida pelo governo pela quantia de 6.000 francos, considerada bastante alta na época e apesar do forte comprometimento político, o valor picturia é assegurado pelo uso das cores e das luzes e sombra.

Cansado dos temas eruditos que a Academia desejava que os pintores ilustrassem, Delacroix viajou, em 1832, para o norte da África a fim de estudar as cores resplandecentes as roupagens românticas do mundo árabe. Após viajar pelo Marrocos como membro de uma comitiva do embaixador da França com a missão de documentar os hábitos e costumes daquela terra, passou a retratar temas e episódios do Oriente Médio, intensificando e mostrando cores mais vibrantes. Além disso, encantou-se com o exotismo e luminosidade dos países que visitara e elaborou desenhos e aquarelas sobre os costumes dos árabes, que depois utilizou em telas como “Les femmes d’Alger” (“As mulheres de Argel”). Por esses motivos, essa viagem é considerada elemento marcante na trajetória do artista que viveu nesse momento uma importante experiência para sua arte (Delacroix retratou em seu quadro a visão que teve de Marrocos: realidade misturada ao mistério e ao exotismo). O quadro “Cavalaria árabe fazendo uma investida”, por exemplo, é fruto dessa viagem e representa uma negação aos ensinamentos de David e Ingres.

A partir de então, Delacroix passa a realizar trabalhos de grande escala em prédios públicos e igrejas, pintando murais e painéis. Por volta de 1836, por exemplo, foi convidado a elaborar uma série de decorações para o governo, dentre as quais a decoração do Salão do Rei no Palácio do Bourbon e da biblioteca do palácio de Luxemburgo. Um de seus maiores murais é o da capela dos anjos da Igreja de Saint-Sulpice e, especialmente no quadro que representa Jacó em luta contra o anjo, Eugène revela-se o “último grande muralista de tradição barroca”.

Seu primeiro quadro foi  A Barca de Dante, a qual faz referência à  A Barca da Medusa, de Géricault, para quem o pintor havia posado. (A Barca de Dante foi um dos temas preferidos do romantismo). Delacroix também acumula alguns desenhos com temas gregos durante a época em que a Europa romântica se entusiasmou com a causa grega. Vale também falar sobre a tela A Agitação de Tânger, importante devido aos seus elementos pictóricos que prenunciam o impressionismo.

Algumas pessoas comparavam Delacroix com Rubens e Michelangelo. Sua obras, porém, como O Massacre de Chios (1822),  A Morte de Sardanápalo (1827) e  A Tomada de Constantinopla pelos Cruzados (1840), baseadas em temas exóticos e históricos, não eram tão apreciadas como a dos pintores referidos. As composições de Eugène Delacroix eram mais caóticas e apresentavam uma dramaticidade e simbolismo quase incompreensíveis pela Academia.

Artista famoso pela intensidade de suas cores e por experimentos que revolucionaram a maneira de trabalhar os tons, Eugène Delacroix é o mais conhecido representante do estilo romântico na pintura. As cenas de paixão, violência e sensualidade, aliadas ao colorido das vestes e paisagens, fizeram a fama desse pintor da nobreza. Pode-se dizer que, por volta de 1840, apesar de já ter amadurecido seu estilo, suas pinceladas vigorosas e separadas, os tons dourados e a composição barroca, faziam lembrar os quadros de Rubens e Paolo Veronese.

Tendo participado diversas vezes do Salão de Paris e premiado com a Grande Medalha de Honra e a comenda da Legião de Honra, foi eleito membro da Academia de Belas Artes de Paris. Apesar das premiações e honrarias, Delacroix passou seus últimos dias de vida em reclusão em seu ateliê, onde permaneceu isolado até sua morte, aos 65 anos, em 13 de agosto de 1863, causada pelas crises de laringite que lhe afligiram durante grande parte da vida. Ainda, no ano de 1865, a primeira edição do seu “Diário” foi relevada, provando que, além de grande pintor, Delacroix era um escritor que pensava profundamente a respeito de sua arte. Num desses diários, inclusive, foi revelado que Delacroix não gostava de ser considerado como um rebelde fanático – porque se ele recebia essa caracterização, era porque não aceitava os padrões da academia.

O Romantismo no qual se insere Eugène Delacroix

O Romantismo caracteriza-se como uma reação ao neoclassicismo do século XVIII e historicamente situa-se entre os anos 1820 e 1850. Andando na contra-mão dos artistas neocássicos que imitavam a arte greco-romanona e os mestres do Renascimento italiano, submetendo-se às regras determinadas pelas escolas das belas-artes, os romanticos procuraram se libertar das convenções acadêmicas “a favor da livre expressão da personalidade do artista” (Santos, 2005:126). Por isso, a característica mais marcante do romantismo é a valorização dos sentimentos e da imaginação para a criação artística. Também, a valorização da natureza, o nacionalismo e o sentimento do presente compõe a estética dessa vertente.

Ainda, a pintura romântica aproxima-se das formas barrocas. Nesse contexto, Delacroix recuperou o dinamismo e o realismo negados pelos neoclássicos. Pode-se destacar nos quadros românticos uma composição diagonal, a qual sugere instabilidade e dinamismo ao observador, pelas cores e contrastes de claro e escuro que oferecem dramaticidade.

No que se refere aos temas, os fatos reais da história despertam mais interesse dos artistas do que os da mitologia greco-romana (apesar de a tela escolhida para ser estudada nesse trabalho trazer elementos da mitologia). Além disso, nos quadros românticos a natureza ganha importância e dinamismo que pode ser comparado às emoções humanas.

 

 

 

VIOLÊNCIA NAS TORCIDAS ORGANIZADAS – REALIDADE INQUESTIONÁVEL

30 jun

“Durante o Campeonato Brasileiro, os matemáticos colocaram o Fluminense com 98% de chances de cair para segunda divisão. Mas às vezes os números enganam. O time carioca deu uma arrancada histórica e, com 11 jogos seguidos sem perder, conseguiu se livrar do rebaixamento para a segunda divisão com um empate por 1 a 1 com o Coritiba. Por outro lado, o clube alviverde do Paraná, no ano de seu centenário, cai para Série B da competição nacional”. (Fonte: Terra Esportes)

Após o apito final que decretou o empate em 1×1 com o time do Fluminense, o Coritiba foi rebaixado e o Couto Pereira foi transformado num campo de guerra. Eu estava lá, sentindo a agonia de ver o time do coração ser rebaixado para a série B do Campeonato Brasileiro em pleno ano em que comemorava seu centenário.

O tempo, como de costume, estava nublado, e eu assistia ao jogo vestida com camisa verde e branca do alto do terceiro andar da arquibancada, logo acima do lugar oficial da Império Alviverde, Torcida Organizada do Coxa. Acompanhada de meu pai, como sempre, fomos ao Couto Pereira (estádio do Coritiba), dessa vez, para sofrer na partida que definiria o destino do Coxa: permanecer na série A do Campeonato Brasileiro ou cair para a segunda divisão, em pleno ano de comemoração de cem anos do time. A tensão era evidente entre os torcedores, que, mais do que nunca, naquela ocasião, estavam unidos em prol de uma mesma causa.

Aos 27 minutos do segundo tempo, em cobrança de falta, Fred tocou para Marquinho, que soltou a bomba e marcou o primeiro gol do Fluminense. O gol adversário bastou para revoltar a torcida coxa-branca, que já estava ansiosa com o contexto da situação, e até quem estava fora do estádio tentou invadir o campo. Nunca havia escutado tantos palavrões em tão pouco tempo. O Coritiba estava a 18 minutos do rebaixamento e o nervosismo dos torcedores só baixou quando Marcelinho Paraíba, aos 35, cobrou falta na cabeça de Pereira que igualou o marcador.

“Vamos, vamos meu verdão. Vamos não para de lutar. Vamos em busca da vitória, em busca da vitória. Eu vim te apoiar”. O gol do Coritiba fez renascer as esperanças da torcida que não cessava em cantar seu hino de apoio ao time. O gol de Marcelinho fez renascer a esperança de permanência na elite do futebol brasileiro. Um empate, porém, não bastava. À medida que o fim do jogo se aproximava, expressões de decepção iam aparecendo, lágrimas escorriam e atos de vandalismo e revolta começaram a brotar: o empate não conseguiu manter o Coxa na primeira divisão.

A confusão maior teve início logo que o time do Fluminense começou as comemorações pela permanência na série A. O lateral do time carioca, Rui, envolveu-se numa briga com funcionários do Couto Pereira e em seguida, uma multidão desesperada e furiosa invadiu o campo e acuou o time em direção à sua torcida. Mais tarde, soube-se que o time do Fluminense só deixou o campo protegido por cadeiras e escolta policial.

Os juízes da partida também foram vítimas da fúria dos torcedores. Após o apito final que decretou o rebaixamento do Coritiba, dezenas de pessoas invadiram o gramado e partiram para cima do quarteto de arbitragem. Foi quando os policiais entraram no campo e o confronto com a torcida começou. Ainda, na tentativa de conter a fúria, seguranças tentaram intimidar com pedaços de ferro, causando mais revolta. Havia sangue escorrendo nos rostos dos envolvidos no motim.

Uma cena inesquecível foi ver a própria torcida arrancar as cadeiras do estádio Couto Pereira, considerado um dos mais belos do país, para arremessá-las no gramado em direção aos PMs que, em pequeno efetivo, não conseguiram controlar a agitação. As cadeiras tornaram-se armas e escudos dos policiais contra a violência. Um dos PMs teve que ser retirado carregado pelos colegas, quase desacordado por causa de uma pedrada, cena a qual foi repetida inúmeras vezes, mais tarde, na mídia. Em meio à confusão, um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal pousou no gramado para dar atendimento aos casos mais graves.

Da arquibancada, duas horas de briga, pareceram dois minutos. Foram horas de tensão, medo e espanto: nunca havia visto nada igual. A agonia aumentava à medida que eu me encontrava presa dentro do estádio, já que a confusão alastrara-se para todas as áreas do campo, para as ruas e para os pontos de ônibus. No dia seguinte, foi possível ver consequências da confusão nos estragos na cidade. Também, a tristeza e decepção com o time que acabara de ser rebaixado foram esquecidas e substituídas pelo medo. Tive que correr, encontrar lugares seguros onde podia me esconder dos objetos que voavam pelo ar e da correria que atropelava a multidão enlouquecida.

Foi uma experiência inédita, a qual nunca mais espero presenciar. As cenas de violência que vivenciei foram sérias e, naquele momento, corri risco de vida. A revolta começou entre os torcedores da Império Alviverde, que em atos de vandalismo, pularam o fosso de proteção e invadiram o campo com o intuito de agredir e destruir o patrimônio do time. A violência naquele dia começou entre os torcedores da Império Alviverde, a mesma que costuma oferecer um espetáculo de beleza em suas apresentações.

Depois daquela ocasião, pensei que teria que optar por locais mais nobres e caros no campo, onde não há ou raramente há confusão. Pensei que nunca mais assistiria a uma partida do Coxa da arquibancada principal, logo atrás gol, lugar de preferência e que ocupo desde pequena. Nunca me passou pela cabeça, porém, que deixaria de freqüentar o estádio. Nunca passou pela minha cabeça em deixar de ver o Coxa jogar, seja na primeira, segunda ou terceira divisão. Quando os torcedores vão ao estádio já imaginam que alguma cena de violência pode ocorrer. É recorrente que bebidas, drogas, somadas às canções de provocações e à situação de rivalidade entre torcidas e times, causem algum tipo de confusão; mas confesso que não esperava aquela barbárie que foi a “guerra” no Couto Pereira.

“17 torcedores saíram feridos na confusão, além de três policiais que tiveram que ser hospitalizados. Entre os fãs atingidos, dois deles se encontram em estado grave”. (Fonte: Terra Esportes). Usemos a organização das organizadas para promover uma cultura de paz no esporte.

O fato relatado acontecido no dia 6 de dezembro de 2009. Apesar disso, continuo frequentando o estádio Couto Pereira e, também, outros estádios, principalmente o Pacaembu. Já presenciei outras formas de violência nas partidas de futebol, especialmente brigas com agressões físicas, contudo nenhuma se compara àquela ocorrida em Curitiba. Quando morava na capital paranaense, era sócia-torcedora do Coritiba e hoje, sempre que tenho uma oportunidade, marco presença na torcida.

É tendência

5 maio

Quem gosta de estar na moda sabe que os acessórios são capazes de transformar um look, principalmente quando trazem um toque de personalidade. Grandes, coloridos e chamativos, os “maxiacessórios”, feitos com tecidos acompanhados de madeira, pedras, miçangas e vidros, irão compor o visual da mulherada em 2010.

Descomplicados e leves, porém cheios de requinte, os colares de tecido ganharam destaque nas passarelas. Elizabeth Carvalho, 26 anos, que já produz essas peças há três anos, vem agora conquistando espaço na clientela piracicabana.

Desde cedo envolvida com artes plásticas, Elizabeth, hoje, dedica-se à produção de colares de tecido e garante já ter conquistado a demanda de uma nova clientela que foge do fenômeno da “fast moda” e procura por peças personalizadas.

Foi, literalmente, um sonho que deu origem à ideia de produzir colares exclusivos que trazem como base tecidos trançados e pedrarias. Sempre ligada nas tendências da moda e na necessidade de inovação que exige esse mercado, ela realiza intensa pesquisa sobre as novidades de materiais para sempre manter a originalidade e a beleza de seus acessórios. Peças grandes, coloridas e volumosas e diferentes estampas e formas, por exemplo, estão prometidas em suas coleções.

A qualidade do material também é prioridade para Elizabeth. Ela trabalha com pedras brasileiras, vidros, malhas, rendas e sedas, os quais são comprados pela própria artista em pouca quantidade para, justamente, atender um público feminino que gosta de receber tratamento especial.

Cada colar leva cerca de uma hora e meia para ser confeccionado e traz a criatividade da estilista que produz adereços diferentes todos os dias. Elizabeth já atende duas boutiques na capital paulista e agora disponibiliza suas peças em Piracicaba no “Espaço Gil Mattos”.

Os limites da realidade

4 fev

A dissertação a seguir foi construída a partir da leitura dos textos “Barranquilla e 50 anos de solidão”, de Walter Salles; “A fábula dos três repórteres”, de Luiz Costa Pereira Junior e “Como confiar em fotografias”, de Peter Burke

Invenções como o rádio, a televisão, o cinema e a internet trouxeram o que hoje é chamado de “conhecimento mediático”, ou seja, aquele conhecimento que é mediado pelos meios de comunicação. Embora seja uma espetacular possibilidade, uma vez que proporciona quantidade colossal de informações, é preocupante, pois, muitas vezes, a experiência direta e a “vigilância epistêmica” são ignoradas pela sociedade que passa a aceitar como verdade tudo que lê ou vê na mídia. É nesse contexto que se encaixa a reflexão a respeito do papel do jornalista e os valores que devem nortear sua atuação.

O relato do texto “Barranquilla e 50 anos de solidão”, de Walter Salles, conta como diferentes opiniões podem surgir de acordo com o grau e familiaridade com certo assunto, além de destacar a relevância do contato com a realidade para o profissional de jornalismo. Melhor compreensão e maior credibilidade nasceram para com o texto após a experiência direta de repórteres. Porém, mesmo com o contato direto, as visões sobre os fatos podem ser diferentes, como conta o texto “A fábula dos três repórteres”, de Luiz Costa Pereira Junior. Ele mostra como a experiência pessoal de cada um pode influenciar a percepção e a compreensão daquilo que testemunha. O leque de dados disponíveis possibilita abordar uma mesma história a partir de pontos de vista distintos, com ou sem a intenção de manipulação.

Não bastasse a influência da experiência pessoal, há também as determinações técnicas e sociológicas e os interesses econômicos do veículo. Os limites de espaço e de tempo e a necessidade de publicar uma matéria para impressionar a concorrência e o público são empecilhos para a atuação objetiva e honesta do jornalista.

O “conhecimento mediático” faz com que vivamos num “mundo” contado por jornalistas, já que a eles foram incumbidas as funções de apurar, narrar e selecionar os acontecimentos a fim de recriar a realidade, determinando o valor e a importância de cada fato. Por isso, como realça o texto “Como confiar em fotografias”, de Peter Burke, apesar das facilidades oferecidas pela mídia, os processos de pesquisa, análise e crítica são fundamentais numa sociedade pragmática e saturada de conhecimentos. Aceitar como verdade tudo que é irradiado pelos meios de comunicação é deixar-se manipular ou enganar por muitas informações.

Aprender a trajetória dos meios de comunicação e compreender quais motivos levaram a atuação jornalística ser como é atualmente, além de checar, ordenar e contextualizar o volume de informações com objetividade, imparcialidade e compromisso com as fontes e com o público é uma forma de contribuir com a democracia.

Os Jornalistas na época da Independência e do Império: Miguel Lopes, Luis Gama e José do Patrocínio

4 fev

Luís Gonzaga Pinto da Gama 

    Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu no dia 21 de julho de 1830 na cidade de Salvador, Bahia. Aos dez anos, foi vendido como escravo para sanar dívidas de jogos de seu pai, fidalgo de uma nobre família baiana de origem portuguesa cujo nome Luís Gama nunca revelou. Herdou de sua mãe, Luiza Mahin, africana livre e um dos principais personagens das ressurreições baianas de 1835 e 1837, o espírito de negro combativo. Aprendeu a ler e a escrever aos 14 anos com o amigo Antonio Rodrigues do Prado Junior, apaixonando-se pelos livros. Fugiu da fazenda de seu comprador aos 18 anos ao comprovar que sua situação como escravo era ilegal.

    Mudou-se para São Paulo e seguiu seis anos de carreira militar, da qual foi expulso após revoltar-se contra um oficial que o insultara. Trabalhou como copista e na Secretaria de Governo da Província. Tornou-se advogado e iniciou atividades contra a exploração dos negros, libertando mais de 500 escravos. Lutou pelo cumprimento da lei de 7 de novembro de 1831 que proibia o tráfico negreiro e declarava livre todos os africanos desembarcados no país a partir daquela data, denunciou os dirigentes do país que  protegiam os poderosos, foi inspirador do Movimento dos Caifazes, responsável pela fuga de milhares escravos e fez do jornalismo um verdadeiro instrumento de crítica e ataque à escravidão

    Fundou em 1864 o Diabo Coxo, o primeiro jornal domingueiro ilustrado de caricaturas. O periódico circulou em São Paulo até 1865 e custava 500 réis, cerca de três vezes mais que os jornais da época. Era composto por oito páginas, divididas igualmente entre ilustrações e textos, dos quais se ocupavam o caricaturista Ângelo Agostini, “o repórter do lápis”, e Luís Gama, respectivamente. O título curioso remete a uma sátira acerca dos costumes da sociedade da época. Sua circulação foi possibilitada graças à litografia, ferramenta que democratizou as imagens através do acesso ao mundo via ilustrações.

    Patrono da cadeira nº 15 da Academia Paulista de Letras, seus poemas pertencem ao Romantismo. Conviveu com Castro Alves, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, todavia, não chegou a ver triunfar a abolição, pois faleceu em 24 de agosto de 1882.  
 

José Carlos do Patrocínio 

    José Carlos do Patrocínio nasceu em Campos, Rio de Janeiro, em 9 de outubro de 1854. Filho de uma escrava alforriada e de um padre chamado João Carlos Monteiro, viveu a infância na fazenda de seu pai onde pôde observar as barbáries cometidas contra os escravos. Aos 14 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou no curso de Farmácia que ele sustentou com o dinheiro que ganhava trabalhando como servente de pedreiro. Ainda como estudante, publicava Os Ferrões, quinzenário satírico que saiu em dez números de 1º de junho a 15 de outubro de 1875 no qual revelou seu talento.

    Iniciou a carreira jornalística na Gazeta de Notícias que, em 1878, enviou-o ao Ceará para cobrir o problema da seca. O jornal, porém, era de poucas ilustrações e José do Patrocínio, não satisfeito apenas com seus registros, enviou fotografias de vítimas da tragédia para a redação de O Besouro, folha carioca ilustrada e humorística lançada por Raphael Bordallo Pinheiro. Esse grande caricaturista português fez uma ilustração litográfica retratando as fotos recebidas de José do Patrocínio e a publicou na primeira página da edição de 20 de junho: formava-se a primeira fotorreportagem brasileira. A dupla foi protagonista, também, do primeiro acidente de carro de que se tem notícia no Brasil.

    Na Gazeta da Tarde, jornal que adquiriu no ano de 1881, deu início à sua campanha abolicionista e em 1887, fundou o periódico A Cidade do Rio de Janeiro. Militou ativamente e viu triunfar, em 13 de maio de 1888, a conquista da Abolição pela qual tanto lutou. Porém, seu jornal foi fechado após a proclamação da República, quando foi acusado de participar de uma revolta contra o governo Floriano Peixoto. Em seguida, afastou-se da vida pública e da imprensa e passou a dedicar-se à aviação, além de escrever três livros. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. 

Miguel do Sacramento Lopes da Gama 

    Miguel do Sacramento Lopes da Gama, filho do médico João Lopes Cardoso Machado e Anna Bernarda do Sacramento, nasceu em Recife, Pernambuco, no dia 29 de Setembro de 1791. Aos 14 anos, dedicado à religião, iniciou seus estudos no Mosteiro de São Bento de Olinda para se tornar frade beneditino e, concluiu, mais tarde, no Mosteiro da Bahia, seu noviciado. Regressou para Pernambuco e em 1817, aos 26 anos, foi apontado para lecionar Retórica no Seminário de Olinda e no Colégio das Artes. Foi professor de Frei Caneca, Padre Antônio Vieira, entre outras personalidades. Foi, também, deputado na Assembléia Provincial do Estado e representante da Província de Alagoas, cargo que lhe deu a oportunidade de conhecer o Rio de Janeiro.

    Lopes vivenciou a Revolução Pernambucana e a Confederação do Equador, as transições do governo brasileiro e as lutas pela independência, o que explica sua inclinação liberalista e democrática.

    Foi pioneiro no jornalismo em escrever reportagens contra a escravidão. A partir de 1822, dirigiu jornais como O Constitucional e O Popular, nos quais apoiava a separação de Brasil e Portugal, defendida também por Dom Pedro I. Dez anos mais tarde, o jornal pernambucano O Carapuceiro entra em circulação, dando-lhe fama e o apelido de Padre Carapuceiro. O periódico de quatro páginas circulou pela primeira vez em 7 de abril de 1832. Desta data até dezembro de 1842 circulou com periodicidade irregular e entre 1843 e 1847, esporadicamente. Seu cabeçalho trazia a ilustração de uma loja de chapéus que revelava o objetivo do jornal: criticar, através de textos e caricaturas, os vícios e os costumes da sociedade, a grande influência estrangeira no Brasil, além de distribuir carapuças para políticos, comerciantes, profissionais liberais e clericais. Alguns anos depois de seu falecimento, em 9 de Maio de 1852, a coleção do periódico já era considerada raridade. 
 

Referências bibliográficas

LESSA, Orígenes. Inácio da Catingueira e Luís Gama: dois poetas negros contra o racismo dos mestiços. Rio de Janeiro: FCRB, 1982.

GAMA, Miguel do Sacramento Lopes. O Carapuceiro. Edição facsimilar. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1983.

_________________ Diabo Coxo, edição facsimilar. São Paulo: Edusp, 2005.

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. História da Fotorreportagem no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004 (recomendado para pesquisa sobre Henrique Fleiuss, Bordallo Pinheiro, caricaturistas, fotorreportagem).

WERNECK SODRÉ, Nelson. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.

COSTA, Carlos Roberto da. A revista no Brasil, o Século XIX. São Paulo: ECA-USP, 2007. 

4) A citação correta de sites consultados deve vir a seguir, em outra lista, também com sobrenome, nome, e em ordem alfabética de sobrenomes ou dos portais, e devem fechar com a data em que o site foi consultado, pois muitas vezes sites desaparecem, são fechados. Exemplo:

DINES, Alberto. “85 anos de crítica da mídia”, in Observatório da Imprensa. Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/mt201120021.htm – acessado dia 1° maio de 2009. 

http://www.sampa.art.br/biografias/luizgama/ – acessado em 27 de abril de 2009

http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u682.jhtm – acessado em 27 de abril de 2009

http://pt.shvoong.com/books/biography/1659985-luís-gama-vida-obra/ – acessado em 27 de abril de 2009

http://sarauxyz.blogspot.com/2008/11/biografia-de-luis-gonzaga-pinto-gama.html – acessado em 27 de abril de 2009

http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u707.jhtm – acessado em 28 de abril de 2009

SILVA, Fernando Correia da. http://www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm – acessado em 28 de abril de 2009

COMPARATO, Fábio Konder. ARTIGO: LUIZ GAMA, HERÓI DO POVO BRASILEIRO, 15/05/2007.

CASTANHEIRA, Isabel. http://cavacosdascaldas.blogspot.com/2007/09/166-pgina-caldense.html

Olavo Bilac e José do Patrocínio podem ter cometido primeiro acidente de trânsito no Brasil – Fonte: Minuto do Trânsito

http://carapuceiro.zip.net/ – acessado em 28 de abril de 2009

http://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_Carapuceiro –  acessado em 28 de abril de 2009

http://www.meurecife.com.br/Downloads/O%20Padre%20Carapuceiro.pdf – acessado em 28 de abril de 2009

Questões básicas de pesquisa

4 fev

“Modelos teóricos para o estudo das Comunicações”

O primeiro Modelo Teórico para os Estudo das Comunicações denomina-se Manipulação. Formulado durante a Primeira Guerra Mundial, quando a sociedade era tida como uma massa passiva sobre a qual o poder da mídia não possuía limitações, tem como questão básica de pesquisa o questionamento dos efeitos de curto prazo que podem se causados sobre o público. A mesma questão se repete no segundo modelo, o da Persuasão (ou Influência), este, foi elaborado no período da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria  durante o qual a sociedade ainda era vista como uma massa passiva, porém, diferentemente do primeiro, com certa capacidade de resistência ao aceitar aquilo que é irradiado pela mídia. O terceiro Modelo, chamado de Função, foi desenvolvido após a Segunda Grande Guerra. Ele interroga, basicamente, quais as funções da mídia na sociedade, já que considera a mídia como um conjunto integrado voltado ao controle social. Esses três primeiros modelos foram desenvolvidos nos Estados Unidos, são conhecidos como modelos funcionalistas norte-americanos e caracterizam a chamada comunicação de massa.
            O quarto modelo, conhecido como o da Teoria da Informação, também formulado nos Estados Unidos, surge a partir da década de 20 num contexto de demandas da indústria de telecomunicações. O anseio pela maior eficácia na transmissão de informações, sem preocupação com o teor da ideia a ser irradiada, explica o fato de sua questão fundamental de pesquisa ser a busca pela forma mais eficiente de se transmitir uma mensagem. Já o quinto Modelo, o da Linguagem, formulado na Europa da década de 60, questiona, paradoxalmente ao modelo anterior, a significação da mensagem. Nele contêm os principais estudos sobre a mensagem, por exemplo, as diferentes possibilidades de leitura de um mesmo “texto”.
            O sexto Modelo, denominado o Modelo da Mercadoria ou Teoria Crítica da Comunicação, elaborado durante a década de 40 num momento de crítica ao Iluminismo e de debate da cultura popular, analisa a comunicação como uma mercadoria produzida pela indústria cultural, fazendo da questão básica de pesquisa o questionamento da lógica da produção cultural.
            O sétimo Modelo Teórico, o da Cultura, foi produzido na Inglaterra e nos Estados Unidos numa circunstância de crítica ao marxismo ortodoxo e ao positivismo. Por ver a comunicação como uma forma de compartilhamento de informações e examinar o impacto social das telenovelas, por exemplo, a questão principal levantada é acerca da representação da realidade construída pelos mass media.

            Finalmente, o oitavo Modelo Teórico para o Estudo das Comunicações, o do Diálogo, desenvolvido na América Latina durante o processo de alfabetização dos adultos e de extensão rural nas décadas de 60 e 70 devido às novidades trazidas pelas tecnologias interativas, traz como questão básica de pesquisa a definição ideal de comunicação, uma vez que passa permitir um diálogo mediado pela tecnologia.

Outro desafio do jornalista: a difícil tarefa de conciliar vida pessoal e profissional

4 fev

O jornalista, escritor, pesquisador, professor e comentarista esportivo Celso Unzelte, 41 anos, em entrevista coletiva realizada no último dia 3 de junho, conta como é complicada a tarefa de conciliar a vida profissional e pessoal numa profissão que exige tanto tempo e dedicação.

 

Celso Unzelte mantém uma rotina apertada: “[…] Na segunda de manhã, eu faço o boletim da rádio da ESPN […], eu gravo todos os jogos da semana de uma vez na segunda feira […] e às dez e meia eu to na ESPN gravando o É Rapidinho. Na terça – feira, eu tenho, em tese, livre, o dia inteiro livre, a exceção de uma vez a cada três semanas que eu faço o Ponta Pé Inicial das dez das manhã ao meio dia na ESPN. Na quarta eu dou aula aqui (Faculdade Cásper Líbero) pra vocês de manhã e a tarde é, teoricamente, livre. A quinta é teoricamente toda livre. Na sexta, oriento trabalho aqui (Faculdade Cásper Líbero)  de manhã, faço, pelo menos, a coluna do Yahoo […] e na sexta à  noite, to aqui dando aula pro pessoal da noite. Sábado é meu único dia sem nenhum compromisso mesmo, a não ser quando fechamentos inválidos… Domingo, eu faço o Diário do Comércio pra começar tudo de novo […] E tem pra corrigir, pelo menos, 600 trabalhos por bimestre […]”, além das revistas, consultorias e outros trabalhos que surgem esporadicamente, como lembra o jornalista, afirmando ser uma tarefa quase impossível conciliar família e profissão.

Casado com uma, também, jornalista, ele explica que só poderia ter se conjugado com uma profissional da mesma área, já que, durante anos, passou a maior parte de seu tempo nas redações das revistas e dos jornais nos quais trabalhava. Ele aponta que o lado negativo no fato de ambos seguirem a mesma profissão é o risco de constantemente conversarem assuntos sobre trabalho, como pautas, fontes, edições, fechamentos; e o lado positivo, é a facilidade de compreensão para com as dificuldades que envolvem a ocupação do jornalista: “Se eu ligar pra ela às cinco da manhã dizendo que a redação ainda não fechou, ela vai acreditar”, esclarece Celso, destacando a reciprocidade da situação. Pai de três filhos, Carolina, a mais velha, Beatriz e Daniel, Celso aponta a possibilidade de trabalhar em casa como um fator que favorece a família na hora de compensar a falta de tempo. “Eu e minha esposa conseguimos almoçar todos os dias com nossos filhos.”

Consagrado como o historiador do Corinthians, relata que a elaboração do Almanaque do Timão durante a infância da filha mais velha, prejudicou a presença do pai nessa fase de Carolina. “A infância mais tenra dela, ela perdeu o pai pro computador”, lamenta Celso justificando a densidade de trabalho na apuração dos dados necessários para escrever o livro.

Unzelte afirma que o bom humor com o qual a família encara as dificuldades decorrentes da intensidade dos afazeres é o segredo para o cumprimento de seu dever como pai e profissional de sucesso.

Deixando transparecer esse bom humor, o jornalista lembra que até há pouco tempo, quando dizia para Carolina que estava saindo para trabalhar, ela respondia: “Maldito Corinthians!”. O corinthiano fanático ainda brinca que a carência de horários para os filhos teve algumas consequências: a primeira delas foi a preferência das filhas pelo São Paulo como time para torcer. Seu filho caçula, Daniel, aquele que, nas palavras de Celso, “nasceu com a responsabilidade de ser corinthiano, depois de duas são paulinas”, possui ao lado da mesa do escritório do pai uma mesinha na qual ele brinca de jornalista.

Construir carreira jornalística não era seu sonho de menino. Quando criança, Celso desejava ser desenhista de histórias em quadrinhos. Ele conta que começou a pensar na possibilidade durante o colegial e que essa escolha envolveu a reunião de suas melhores aptidões: ler, escrever e falar. Hoje, apesar do desgaste provocado pela exigência da profissão, conta que seu trabalho traz realização profissional e ainda ressalta que a recomenda aos filhos. “Não só recomendo como faço força.” O entrevistado ainda ressalta que, embora seja difícil ganhar a vida como jornalista, continuará dedicado ao trabalho até quando sua saúde permitir. “Antes de tudo o cara tem que ter prazer em ser jornalista […] não é de dinheiro que eu to falando, é de satisfação pessoal, de ser uma pessoal melhor, que é, no fundo, o que eu sempre busquei desse troço aqui.”