As pamonhas de Piracicaba já são parte da cultura popular brasileira. Conheça a historia da famosa iguaria piracicabana e saiba sobre a construção da nova fábrica de pamonhas e os projetos sociais nela contidos.
A história
udo começou em meados dos anos 50, quando as irmãs Vasthy e Noemi Rodrigues começaram a fabricar pamonhas de forma caseira para enfrentar a dificuldade financeira pela qual passava a família. Herança deixada pela mãe, Dona Benedita Rodrigues, a receita da pamonha inovava na forma e no preparo: era diferente da tradicional pamonha quadradinha de Minas Gerais e, sem adição de outros produtos, o creme de milho era adoçado com açúcar e cozido em uma embalagem costurada com a própria palha do milho.
Após preparar algumas receitas, Dona Vasthy colocou a iguaria numa cesta divulgando o produto de porta em porta pela cidade. Logo no primeiro dia vendeu cerca de 200 pamonhas, surpreendendo a todos.
As vendas cresceram e, logo, a cesta foi substituída pela carroça. O sucesso conquistado pelo sabor atraiu outras pessoas interessadas em vender a pamonha, possibilitando às irmãs o aumento da produção.
O primeiro vendedor motorizado das pamonhas foi o filho caçula de Vasthy que, numa Kombi, vendia o quitute por toda região. O famoso jingle da pamonha foi gravado por Dirceu Bigelli e é a sua gravação que predomina até hoje entre os comerciantes.
Na década de 70, atingindo o auge, a produção alcançou o número de 6 mil pamonhas por dia. Vasthy, então, montou uma fábrica para atender a demanda, negócio no qual se dedicou até seu falecimento em 1983. Sua irmã, Noemi, tentou dar continuidade à fábrica, porém, a família não conseguiu manter a qualidade das pamonhas e, como conseqüência, a procura caiu e as máquinas, colocadas à venda.
“Pamonhas, pamonhas, pamonhas, pamonhas de Piracicaba…”
Criada por Dirceu Bigelli, a famosa gravação “Pamonhas, pamonhas, pamonhas, pamonhas de Piracicaba” é considerada ponto de partida para a descoberta da origem da pamonha.
Dirceu, um vendedor de talento, a fim de incrementar as vendas do quitute que cada dia fazia mais sucesso, abusou de sua criatividade e, na década de 70, criou o famoso jingle da pamonha. Sua atuação no crescimento das vendas refletiu nas condições favoráveis para a construção da fábrica de pamonha de Dona Vasthy Rodrigues.
Mesmo após o fechamento da fábrica, Bigelli continuou comercializando pamonhas que comprava de outros fabricantes; parou de vendê-las em 1990 quando sofreu um acidente de carro e faleceu.
A gravação, no sotaque caipira de Dirceu, foi difundida pelos automóveis e predomina até hoje entre os vendedores espalhados pelo Brasil. Atualmente, seu slogan é uma referência da cidade em todo país.
“… Pamonhas, pamonhas, pamonhas,
Pamonhas de Piracicaba,
É o puro creme do milho-verde,
Venha provar minha senhora…
É uma delícia
Pamonhas fresquinhas,
Pamonhas caseiras,
Pamonhas de Piracicaba…
É o puro creme do milho-verde,
Uma delícia,
Venha provar!
Pamonhas, pamonhas, pamonhas…
Pamonhas de Piracicaba…”
O jingle da pamonha pode ser escutado no site do youtube: http://www.youtube.com/watch?v=2Oc5ZTe4GTw
As informações acerca da história da pamonha piracicabana e de seu jingle contaram com a colaboração das pesquisas realizadas por Silmara Feres, consultora do Sebrae-Sp.
A nova fábrica de pamonhas: além do milho, açúcar e água…
A pamonha de Piracicaba ganhará uma fábrica ainda este ano. O projeto combina inovação tecnológica, controle de qualidade e incentivo aos pequenos produtores rurais. Uma receita para o desenvolvimento sustentável com geração de emprego e renda.
A implantação da Agroindústria do Centro Rural de Tanquinho, já conhecida como a fábrica de pamonhas, é fruto do Programa de Verticalização da Agricultura Familiar na Cadeia Produtiva do Milho Verde. Um projeto que reúne o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, (Esalq), o Centro Rural de Tanquinho, a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Piracicaba e a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), financiadora do projeto.
O projeto teve início em 2003 e tem como objetivo inserir o pequeno produtor rural no mercado de trabalho, criar oportunidade de geração de renda, além de incentivar a história e cultura do município de Tanquinho, distrito de Piracicaba.
Instalada num galpão que ocupa uma área de 500 metros quadrados do Centro Rural de Tanquinho, a fábrica de pamonhas já está com a infra-estrutura pronta. Com capacidade inicial de produção de 6 mil pamonhas por dia, a comercialização do produto está prevista para o segundo semestre deste ano.
Foram necessários quatro anos de pesquisa para identificar as condições adequadas de higiene para o processo fabril de produção de pamonhas. Os estudos revelaram que uma pamonha de qualidade, que garanta a segurança alimentar do consumidor e livre das bactérias comuns do milho deve ser cozida durante 50 minutos a 100ºC. Os experimentos apontaram, também, a necessidade de higienização da palha que envolve o creme do milho. A validade da pamonha é de até seis dias, se mantidas a uma temperatura de 4ºC.
Inovação tecnológica
O presidente do Centro Rural de Tanquinho, professor José Albertino Bendassolli, conta que foi necessária a construção de equipamentos especiais, já que não existe nada semelhante no mercado. “As máquinas foram fabricadas por uma empresa especializada e nossa intenção é patenteá-las”.
A linha de produção da fábrica segue uma seqüência: a primeira máquina, o “Despolpador”, assume a função de retirar as espigas do milho e montar os grãos, transformando-os em um creme; a segunda máquina, o “Formulador”, adota como responsabilidade misturar os ingredientes da pamonha – milho moído, água e açúcar; a terceira máquina, o “Envasador”, tem como papel determinar um volume padrão de creme para cada palha que envolve a pamonha. Finalmente, a linha de produção é finalizada com máquinas de costura para o fechamento da palha, quando seguem para a etapa de cozimento. O procedimento conta, também, com um sistema para higienização da palha. Segundo o professor Bendasolli, o processo de produção, envolvendo todas as etapas, leva cerca de três horas.
O projeto é uma alternativa para os pequenos produtores rurais que poderão diversificar seus cultivos: “Dos 100 mil hectares plantados na região, apenas 1% é destinado ao milho, sendo o restante do espaço, privilegiado pelo plantio da cana de açúcar. Vista a crise na qual estamos inseridos, a cultura do milho pode atuar como alternativa capaz de gerar empregos e recursos através da venda e comercialização do produto, além de valorizar o trabalhador rural”, alerta José Albertino Bendassolli.
“Após o início da produção, a idéia é montar, ao lado da fábrica, uma loja para a venda da pamonha”, conta o professor.
A Festa do Milho
É uma festa que acontece todos os anos no município de Tanquinho, distrito de Piracicaba. Este ano, a festa ocorreu todos os fins de semana entre os dias 7 e 22 de março.
Com a fábrica ainda fora de operação, os preparativos para a 35ª Festa do Milho seguiram os rituais tradicionais: 35 pessoas num trabalho artesanal que vai desde a tarefa de descascar e limpar o cabelo do milho até o cozimento e fechamento da palha que armazena o creme. A etapa de ralamento do milho é a única que conta com a colaboração de duas máquinas.
“Seis dias de trabalho para preparar as 20 mil unidades de pamonha consumidas pelo público, além dos outros quitutes à base de milho, como o cuscuz, o mais vendido durante a festa”, diz José Albertino.
Porém, segundo o professor, as expectativas para festa de 2010 são diferentes: “Com a fábrica em operação, a previsão é produzir 100 mil unidades de pamonha para a festa do ano que vem. Hoje, em doze horas de trabalho, a capacidade de produção é de 3 mil unidades por dia; com o maquinário disponível, em oito horas de trabalho, a capacidade será de 6 mil pamonhas”.
Na Rua do Porto…
A Rua do Porto é ponto turístico da cidade. Os restaurantes, conhecidos pela oferta de peixes e frutos do mar, distribuem suas mesas ao longo da beira do rio onde os visitantes sentam para almoçar, bater papo e apreciar a paisagem. Entre os restaurantes, as tradicionais barraquinhas que comercializam uma variedade enorme de quitutes, marcam o cenário, atraindo diversos consumidores. Entre elas, claro, a barraca da famosíssima pamonha piracicabana.
Seu Osvaldo Zanatta, 65 anos, comercializa a pamonha há 15 anos. Sua barraquinha, localizada na beira do Rio em frente à Ponte Pencil, lugar de destaque na Rua do porto, vende em média 350 pamonhas por fim de semana.
A iguaria é fabricada em casa por ele e por sua mulher, Terezinha Zanatta. “Nós acordamos às quatro horas da manhã nos fins de semana, pois para garantir a qualidade do produto, a pamonha deve ser fabricada no dia do consumo”, garante Osvaldo.
Ele chama atenção para a preferência do público pela pamonha doce. As salgadas, como alerta Terezinha, só são feitas sob encomenda. “Antigamente produzíamos a pamonha no sabor salgado, mas elas sempre sobravam e acabam trazendo prejuízos para nós. O piracicabano gosta mesmo é da doce”.
Seu Osvaldo relata em meio a risos que, quando o comprador pede a pamonha salgada, ele logo deduz que é turista: “Eles assustam e me perguntam como eu sei que não são piracicabanos”.
Durante a conversa com o casal Zanatta, surge um cliente que pede uma pamonha salgada, Seu Osvaldo logo indaga a origem daquele comprador. Curitibano, Edilson Almeida veio visitar o irmão na cidade, o qual sempre faz propaganda da pamonha para a família. “Eu não podia vir para Piracicaba e deixar de comer a pamonha de que tanto fala meu irmão. É muito gostosa mesmo, está aprovada!”.
Além da Rua do Porto, é possível encontrar a pamonha nos varejões espalhados pela cidade, em alguns supermercados e, também, na rodoviária, local de chegada de muitos visitantes que logo chegam procurando o quitute.
A pamonha e a nova geração
A nostalgia trazida pela lembrança do carro que rodava as ruas ao som do jingle da pamonha é marca na vida dos piracicabanos já “maduros”. Entrevistas com jovens residentes na cidade revelam que, apesar de reconhecerem a importância da pamonha para a cidade e sua música característica, ela já não exerce tanta influência como fez na vida dos mais velhos.
Cheyene Ramos Morato, 15 anos, conta que em sua casa, quem costuma comprar a pamonha é sua avó. “Eu como pamonha somente quando minha avó compra para mim. Penso que quando ela era mais jovem, devido à época de fama da pamonha, o hábito de consumi-la era maior e, por isso, é ela quem compra”.
A nova geração, muitas vezes, nem sequer experimentou o quitute que já agradou e que agrada tantos paladares: “Moro em Piracicaba desde os dois anos de idade, porém, nunca provei a pamonha. Vou ainda mais longe: não sabia da existência do sabor salgado. Já experimentei a pamonha mineira, mas, apesar de ter gostado, não é uma comida que me dá água na boca”, diz Fernando Cintra, 16 anos, estudante.
O carro com o auto-falante tocando o jingle da pamonha que tanto caracterizava as ruas de Piracicaba, também já não cumpre mais seu papel e é difícil de ser encontrado na cidade. “É raro minha família comprar a pamonha. Talvez, se o carro da pamonha passasse com mais freqüência pelas ruas da cidade, consumiríamos mais o produto”, argumenta Vinícius Altafin Rodrigues, 16 anos.
O futuro da pamonha
O resgate cultural a partir das pesquisas acerca da história resgate cultural obtidoficado da pamonha para a cidade e para a nova geracao.onha [e da pamonha de Piracicaba, além de disponibilizar a biografia do quitute mais famoso do país e de colaborar com a instalação da nova fábrica, tem como meta, criar projetos de divulgação e estratégias mercadológicas essenciais para a comercialização do produto, incentivar o turismo local e resgatar o significado da pamonha para a cidade e para a nova geração.