“A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica”

9 nov

 

O ensaio “A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica”, publicado, originalmente em 1936, é um dos mais reconhecidos textos do alemão Walter Benjamin pela importância e atualidade de suas ideias. Nele, o autor discute as inúmeras maneiras pelas quais é possível entender uma obra de arte, abordando, não só, a questão da sua autenticidade, mas também, o fator atual da tecnologia, da industrialização capitalista e da comercialização da cultura. Daí a atualidade do pensamento de Benjamin.

O texto discute a unicidade da obra de arte nas sociedades pré-modernas devido à não existência de técnicas de reprodução. É nesse contexto que o alemão trata a chamada “Indústria Cultural”, explicando que a aura, estabelecida pela distância entre a obra e o observador, determina o valor cultural e a autenticidade da obra de arte, ao passo que, qualquer reprodução era tida como falsificação. Numa análise dessa questão nas sociedades atuais, o autor debate as modificações ocorridas nas técnicas de reprodução que possibilitaram à arte a “mobilidade” (não fixação) de espaços e, portanto, a abrangência dos mais diversos lugares e espectadores.

O contexto social e econômico contemporâneo é aquele que valoriza a maior quantidade de lucro em um menor intervalo de tempo a fim de facilitar o cotidiano das pessoas. Nessa conjuntura, Walter Benjamin questiona a possibilidade de se contemplar uma obra de arte, não onde ela foi elaborada, mas onde ela está reproduzida, desde que esteja lugar mais próximo ao indivíduo.

Em seu ensaio, afirma que o aparecimento da fotografia marcou o desenvolvimento das novas formas de arte, pois promoveu o desaparecimento da distinção entre cópia e original e substituiu a noção de existência da singularidade pela condição de multiplicação de uma mesma obra. Já o cinema, também tratado no texto, aparece sob a reflexão acerca da substituição dos espectadores pelos intérpretes dos aparelhos de filmagem durante a gravação. Benjamin aproveita-se dessa discussão para comparar as imagens captadas pelo pintor e pelo cameraman, ressaltando a capacidade deste de ampliar a percepção do espectador devido à profundidade com que atua em certos contextos. Sobre esse tema, o autor declara as grandiosas produções cinematográficas e a “fábrica” de estrelas, os responsáveis pelo cenário capitalista do mundo atual que visa o valor mercantil da obra de arte, manifestando, mais uma vez, a atualidade de suas ideias.

A partir dessa análise, Walter, também, elucida a atual preponderância do valor expositivo da obra de arte sobre seu valor ritualístico: a fotografia e o cinema são formas de arte acessíveis para um numeroso público. Capazes de atuar como instrumentos politizadores, florescem o senso crítico no observador, além de tornar mais democrático o acesso à obra de arte. Portanto, a “arte da bela aparência” , como é chamada, não é vista pelo autor de modo pessimista: para ele, a reprodução da arte pode por em risco a autenticidade e a aura, porém, por outro lado, torna as obras de arte mais acessíveis a um maior número de pessoas. É nesse caráter da reprodução técnica que Benjamin vê a possibilidade de democratização da estética a partir da conservação das características do produto original.

O autor, mesmo em meados dos anos 30, foi capaz de prever o cenário que domina a época presente: “A arte surge como um elemento radical na sociedade, independente do contexto histórico que se viva”.

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