Os Jornalistas na época da Independência e do Império: Miguel Lopes, Luis Gama e José do Patrocínio

4 fev

Luís Gonzaga Pinto da Gama 

    Luís Gonzaga Pinto da Gama nasceu no dia 21 de julho de 1830 na cidade de Salvador, Bahia. Aos dez anos, foi vendido como escravo para sanar dívidas de jogos de seu pai, fidalgo de uma nobre família baiana de origem portuguesa cujo nome Luís Gama nunca revelou. Herdou de sua mãe, Luiza Mahin, africana livre e um dos principais personagens das ressurreições baianas de 1835 e 1837, o espírito de negro combativo. Aprendeu a ler e a escrever aos 14 anos com o amigo Antonio Rodrigues do Prado Junior, apaixonando-se pelos livros. Fugiu da fazenda de seu comprador aos 18 anos ao comprovar que sua situação como escravo era ilegal.

    Mudou-se para São Paulo e seguiu seis anos de carreira militar, da qual foi expulso após revoltar-se contra um oficial que o insultara. Trabalhou como copista e na Secretaria de Governo da Província. Tornou-se advogado e iniciou atividades contra a exploração dos negros, libertando mais de 500 escravos. Lutou pelo cumprimento da lei de 7 de novembro de 1831 que proibia o tráfico negreiro e declarava livre todos os africanos desembarcados no país a partir daquela data, denunciou os dirigentes do país que  protegiam os poderosos, foi inspirador do Movimento dos Caifazes, responsável pela fuga de milhares escravos e fez do jornalismo um verdadeiro instrumento de crítica e ataque à escravidão

    Fundou em 1864 o Diabo Coxo, o primeiro jornal domingueiro ilustrado de caricaturas. O periódico circulou em São Paulo até 1865 e custava 500 réis, cerca de três vezes mais que os jornais da época. Era composto por oito páginas, divididas igualmente entre ilustrações e textos, dos quais se ocupavam o caricaturista Ângelo Agostini, “o repórter do lápis”, e Luís Gama, respectivamente. O título curioso remete a uma sátira acerca dos costumes da sociedade da época. Sua circulação foi possibilitada graças à litografia, ferramenta que democratizou as imagens através do acesso ao mundo via ilustrações.

    Patrono da cadeira nº 15 da Academia Paulista de Letras, seus poemas pertencem ao Romantismo. Conviveu com Castro Alves, Rui Barbosa e Joaquim Nabuco, todavia, não chegou a ver triunfar a abolição, pois faleceu em 24 de agosto de 1882.  
 

José Carlos do Patrocínio 

    José Carlos do Patrocínio nasceu em Campos, Rio de Janeiro, em 9 de outubro de 1854. Filho de uma escrava alforriada e de um padre chamado João Carlos Monteiro, viveu a infância na fazenda de seu pai onde pôde observar as barbáries cometidas contra os escravos. Aos 14 anos mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se formou no curso de Farmácia que ele sustentou com o dinheiro que ganhava trabalhando como servente de pedreiro. Ainda como estudante, publicava Os Ferrões, quinzenário satírico que saiu em dez números de 1º de junho a 15 de outubro de 1875 no qual revelou seu talento.

    Iniciou a carreira jornalística na Gazeta de Notícias que, em 1878, enviou-o ao Ceará para cobrir o problema da seca. O jornal, porém, era de poucas ilustrações e José do Patrocínio, não satisfeito apenas com seus registros, enviou fotografias de vítimas da tragédia para a redação de O Besouro, folha carioca ilustrada e humorística lançada por Raphael Bordallo Pinheiro. Esse grande caricaturista português fez uma ilustração litográfica retratando as fotos recebidas de José do Patrocínio e a publicou na primeira página da edição de 20 de junho: formava-se a primeira fotorreportagem brasileira. A dupla foi protagonista, também, do primeiro acidente de carro de que se tem notícia no Brasil.

    Na Gazeta da Tarde, jornal que adquiriu no ano de 1881, deu início à sua campanha abolicionista e em 1887, fundou o periódico A Cidade do Rio de Janeiro. Militou ativamente e viu triunfar, em 13 de maio de 1888, a conquista da Abolição pela qual tanto lutou. Porém, seu jornal foi fechado após a proclamação da República, quando foi acusado de participar de uma revolta contra o governo Floriano Peixoto. Em seguida, afastou-se da vida pública e da imprensa e passou a dedicar-se à aviação, além de escrever três livros. Foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. 

Miguel do Sacramento Lopes da Gama 

    Miguel do Sacramento Lopes da Gama, filho do médico João Lopes Cardoso Machado e Anna Bernarda do Sacramento, nasceu em Recife, Pernambuco, no dia 29 de Setembro de 1791. Aos 14 anos, dedicado à religião, iniciou seus estudos no Mosteiro de São Bento de Olinda para se tornar frade beneditino e, concluiu, mais tarde, no Mosteiro da Bahia, seu noviciado. Regressou para Pernambuco e em 1817, aos 26 anos, foi apontado para lecionar Retórica no Seminário de Olinda e no Colégio das Artes. Foi professor de Frei Caneca, Padre Antônio Vieira, entre outras personalidades. Foi, também, deputado na Assembléia Provincial do Estado e representante da Província de Alagoas, cargo que lhe deu a oportunidade de conhecer o Rio de Janeiro.

    Lopes vivenciou a Revolução Pernambucana e a Confederação do Equador, as transições do governo brasileiro e as lutas pela independência, o que explica sua inclinação liberalista e democrática.

    Foi pioneiro no jornalismo em escrever reportagens contra a escravidão. A partir de 1822, dirigiu jornais como O Constitucional e O Popular, nos quais apoiava a separação de Brasil e Portugal, defendida também por Dom Pedro I. Dez anos mais tarde, o jornal pernambucano O Carapuceiro entra em circulação, dando-lhe fama e o apelido de Padre Carapuceiro. O periódico de quatro páginas circulou pela primeira vez em 7 de abril de 1832. Desta data até dezembro de 1842 circulou com periodicidade irregular e entre 1843 e 1847, esporadicamente. Seu cabeçalho trazia a ilustração de uma loja de chapéus que revelava o objetivo do jornal: criticar, através de textos e caricaturas, os vícios e os costumes da sociedade, a grande influência estrangeira no Brasil, além de distribuir carapuças para políticos, comerciantes, profissionais liberais e clericais. Alguns anos depois de seu falecimento, em 9 de Maio de 1852, a coleção do periódico já era considerada raridade. 
 

Referências bibliográficas

LESSA, Orígenes. Inácio da Catingueira e Luís Gama: dois poetas negros contra o racismo dos mestiços. Rio de Janeiro: FCRB, 1982.

GAMA, Miguel do Sacramento Lopes. O Carapuceiro. Edição facsimilar. Recife: Fundação de Cultura da Cidade do Recife, 1983.

_________________ Diabo Coxo, edição facsimilar. São Paulo: Edusp, 2005.

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. História da Fotorreportagem no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004 (recomendado para pesquisa sobre Henrique Fleiuss, Bordallo Pinheiro, caricaturistas, fotorreportagem).

WERNECK SODRÉ, Nelson. História da Imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Mauad, 1999.

COSTA, Carlos Roberto da. A revista no Brasil, o Século XIX. São Paulo: ECA-USP, 2007. 

4) A citação correta de sites consultados deve vir a seguir, em outra lista, também com sobrenome, nome, e em ordem alfabética de sobrenomes ou dos portais, e devem fechar com a data em que o site foi consultado, pois muitas vezes sites desaparecem, são fechados. Exemplo:

DINES, Alberto. “85 anos de crítica da mídia”, in Observatório da Imprensa. Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/mt201120021.htm – acessado dia 1° maio de 2009. 

http://www.sampa.art.br/biografias/luizgama/ – acessado em 27 de abril de 2009

http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u682.jhtm – acessado em 27 de abril de 2009

http://pt.shvoong.com/books/biography/1659985-luís-gama-vida-obra/ – acessado em 27 de abril de 2009

http://sarauxyz.blogspot.com/2008/11/biografia-de-luis-gonzaga-pinto-gama.html – acessado em 27 de abril de 2009

http://educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u707.jhtm – acessado em 28 de abril de 2009

SILVA, Fernando Correia da. http://www.vidaslusofonas.pt/jose_do_patrocinio.htm – acessado em 28 de abril de 2009

COMPARATO, Fábio Konder. ARTIGO: LUIZ GAMA, HERÓI DO POVO BRASILEIRO, 15/05/2007.

CASTANHEIRA, Isabel. http://cavacosdascaldas.blogspot.com/2007/09/166-pgina-caldense.html

Olavo Bilac e José do Patrocínio podem ter cometido primeiro acidente de trânsito no Brasil – Fonte: Minuto do Trânsito

http://carapuceiro.zip.net/ – acessado em 28 de abril de 2009

http://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_Carapuceiro –  acessado em 28 de abril de 2009

http://www.meurecife.com.br/Downloads/O%20Padre%20Carapuceiro.pdf – acessado em 28 de abril de 2009

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