A PRIMAVERA – EURÍDICE COLHENDO FLORES É MORDIDA POR UMA COBRA, DE EUGÈNE DELACROIX

15 out

EXERCÍCIO DE DESCRIÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA TELA:

No quadro “Primavera: Euridice colhendo flores é mordida por uma cobra”, de Eugène Delacroix, o que mais chama atenção, à primeira vista, é a presença de três mulheres jovens numa paisagem pouco nítida composta por montanhas e floresta.

Uma das mulheres do quadro, especificamente a que se encontra no segundo plano da pintura, no quadrante inferior direito, veste um vestido azul acompanhado de um manto avermelhado. As pernas da moça estão inteiramente cobertas, deixando apenas seus pés à mostra, e o braço apresenta-se totalmente descoberto pela manga regata do vestido. No cabelo loiro, quase ruivo, há um enfeite. Ela está apoiada sobre o joelho direito e leva na mão uma cesta que está virada, de modo que deixa parecer que as coisas que levava nela, suponho flores, estão caindo no chão. A moça leva consigo uma expressão de espanto e tristeza e seu rosto, em relação ao corpo, está posicionado para a direita com olhar dirigido às outras duas mulheres que compõe a figura. A cesta caída, somada à expressão do rosto já descrita, transmite a sensação de que ela está assustada com a situação que se passa com a mulher para qual está olhando.

Mais à frente, num relevo mais baixo da montanha, no centro e no primeiro plano da tela, há outra mulher, também, trajando um vestido drapeado azul que contorna sua cintura por meio de uma faixa marrom e que deixa seus joelhos e parte da coxa à mostra. Os braços dela também ficam descobertos devido à manga curta e modesto decote do vestido. Sua roupa ainda traz uma espécie de meia que não cobre os dedos descalços e um enfeite no cabelo aparentemente “chanel” e castanho. Essa mulher está de pé e sua perna esquerda posicionada à frente da direita. Seu braço esquerdo encontra-se elevado e o direito segurando o braço direito de outra mulher que está na pintura. O rosto da moça traz uma expressão de medo, surpresa e alarme misturado com melancolia e depressão e está virado para o lado esquerdo e para baixo. A explicação para a posição e expressão dessa mulher pode ser explicada pela figura que aparece atrás dela: uma cobra.

A cobra é, aparentemente, uma naja de cor marrom avermelhada. A naja encontra-se em posição de “bote”, como se fosse levantar-se. O quadro não traz a pintura do “corpo” inteiro da cobra, deixando a impressão de que a parte que falta está escondida na vegetação e que o réptil pegou sua “vítima” de surpresa ou que, como a serpente estava sob a vegetação, a jovem não a viu e “tropeçou” nela. A naja está posicionada na altura da cintura da moça morena de vestido azul e, por meio da expressão dela, pode-se deduzir que a cobra está picando a mulher. Através dessa “cena”, pressupõe-se que a moça que está sendo picada pela cobra constitui-se na “protagonista” do quadro. Para mim, ela é Eurídice a quem o nome do quadro se refere. Essa é, também, a ação que permite uma interpretação mais profunda e aprimorada da pintura.

Como já mencionado, à frente da mulher de vestido azul, também no primeiro plano da tela e no quadrante inferior esquerdo, há outra jovem. Esta, por sua vez, encontra-se abaixada e apoiada sobre o joelho esquerdo e com a perna direita flexionada. A coxa direita aparece quase totalmente. O braço direito traz um bracelete e está sendo segurado pela mulher que a cobra picou e a mão esquerda carrega uma muda de flores. Esta moça veste uma saia drapeada num tom marrom alaranjado e a parte de cima do vestido, de cor azul clara, está caindo em seus braços, deixando os seios à mostra. Vale aqui dizer que essa parte da tela une e contrapõe, de certa forma, o erotismo (dos seios amostra) e a morte (pela picada da cobra). Ainda, a moça à qual é dedicado esse parágrafo, possui cabelo longo cacheado e castanho claro num tom que se aproxima do loiro e carrega enfeites. Seu corpo está curvado para a esquerda e o olhar acompanha a inclinação do corpo para o lado esquerdo, diferente do seu olhar o qual se dirige à mulher de azul que está segurando seu braço. A expressão que ela traz no rosto indica espanto, incompreensão e desalento.

Essa parte descrita da pintura traz a sensação de que uma das moças – a segunda descrita – assustou-se com a picada da serpente e, por isso, num impulso, puxou vorazmente e intuitivamente a moça que se encontrava mais próximo a ela. Dessa forma, é possível explicar a posição da terceira moça descrita: ela aparenta perder o equilíbrio e cair após o “empurrão”. Ainda, devido a esse empurrão, parte da roupa da moça saiu, despindo-a.

Conclui-se, portanto que as moças da tela são jovens e bonitas e que Delacroix dedicou-se à pintura das faces e expressão das personagens para passar a mensagem que desejava: aflição, tristeza e desespero motivada pela possível morte e dor causada pela picada da naja. Após a observação desses quatro elementos – mulheres e serpente – que mais chamam atenção numa primeira observação da pintura, percebe-se a presença de outro elemento bastante significativo e sugestivo para a descrição e interpretação da pintura.

No quadrante inferior esquerdo e, ao meu ver, no segundo plano, entre uma muda de plantas e abaixo de uma árvore que marca presença na tela, há um homem pequeno que, quando comparado com a mulher picada pela naja, apresenta-se na altura do joelho da moça. Metade do corpo do homem pequeno está escondido entre as plantas. Além disso, ele veste uma espécie de túnica vermelha e carrega no braço direito, como se estivesse guardando, protegendo e abraçando, uma arpa amarela ou dourada, considerada por ele muito valiosa. O braço esquerdo do homem encontra-se esticado e, pelas formas da pintura, percebe-se seu corpo atlético. Sua face expressa desespero, dor, sofrimento, inconformismo, tristeza e espanto. É importante dizer que essa figura permite uma interpretação mais elaborada do quadro: o fato de o pintor tê-lo pintado em tamanho pequeno indica a pequenez do homem forte e guerreiro que não pode tomar nenhuma atitude contra a picada da cobra. A expressão de seu rosto também permite essa interpretação e, quiçá, admite afirmar que o homem pequeno não se conforma com o fato de não poder proteger a moça pela qual estava apaixonado – a que se encontra sob efeito do veneno da serpente. Vale aqui uma observação: o fato de o homem pequeno estar localizado no segundo plano da tela, quando levada em consideração sua importância no conjunto da obra, passa a impressão de que ele não deveria estar naquela cena, como se ele fosse uma espécie de anjo que acompanha Eurídice sem ela saber e que sua arpa é um instrumento “mágico, único capaz de salvá-la.

No quadrante inferior direito há um tronco e uma muda de flores, da qual pode-se deduzir que a mulher cujo tronco aparece sem roupa estava colhendo as flores que carrega na mão esquerda. Agora, depois de melhor analisar o quadro, posso afirmar que a cesta da primeira jovem descrita está virada no chão para representar o susto que esta tomou ao ver a cobra picando sua companheira, como se ela tivesse derrubado a cesta no chão.

No que diz respeito à paisagem de fundo da pintura, para desvendá-la, não basta um primeiro olhar; é preciso observar a pintura com calma e atenção. Um rápido olhar no desenho não é suficiente para entender profundamente o que o Delacroix pintou no terceiro plano, mas à primeira vista, percebe-se que ao fundo há montanhas e vegetação, porém, nada muito nítido. Uma observação mais cautelosa permite concluir que a intenção do autor, levando-se em consideração a interpretação da obra como um todo, foi justamente pintar uma paisagem dramática – e a forma como ele encontrou para fazê-la foi por meio de uma pintura “embaçada”. Essa paisagem embaçada e esfumaçada também reforçam o efeito de profundidade da tela. Essa paisagem, da qual não é possível depreender os detalhes, apresenta como cores principais o verde, o azul e o marrom. É visível o cuidado do pintor em relação aos tons das referidas cores de modo que elas transmitem uma impressão bastante real da paisagem: relevos, plantas diferentes e de cores diferentes, formato das pedras, montanhas ao fundo e céu, como presente, por exemplo, no quadrante superior direito. Ainda, entre as pedras e árvores que formam uma montanha na paisagem, também no quadrante superior direito, há um elemento que não consegui identificar, nem mesmo após observação cautelosa (talvez seja outra muda de flores, ou talvez seja um animal, já que se trata de uma floresta). A árvore “principal”, localizada no segundo plano e no quadrante inferior esquerdo, debaixo da qual localiza-se o homem pequeno, também causa essa impressão, já que traz uma pintura de cor diferente entre as folhas e o tronco, porém não foi possível decifrar o elemento. Vale destacar que a grama é apresentada num tom verde claro suave, sendo as partes com tons verde escuro representantes das mudas mais volumosas e altas, sem esquecer que os pontos claros representam as flores da paisagem.

Por fim, cabe uma análise do estilo de pintura da tela. Num exame “grosseiro”, posso dizer que Delacroix pintou o quadro em pinceladas rápidas dispostas em curvas, especialmente na paisagem, com exceção da pintura das pessoas que apresentam maiores detalhes e delicadesa. Esse estilo de pincelada também reforça o aspecto turbulento e tortuoso da situação representada no quadro.

MITO DE ORFEU E EURÍDICE

O mito de Orfeu e Eurídice inspirou artistas ao longo do tempo e tais representaçõs tornaram possível o contato com diferentes linguagens da História da Arte. Poetas, pintores e escultores tentaram representá-lo, cada um de acordo com seu estilo, como fez Delacroix. Nesse contaxto, segue abaixo o mito que inspirou a tela Eurídice Colhendo Flores é Mordida por uma Cobra, de Eugène Delacroix:

Orfeu é filho da musa Calíope e do deus Apolo, que o presenteou com uma lira. Considerado o mais talentoso entre os músicos, quando Orfeu tocava, os pássaros paravam para escutar, os animais selvagens perdiam o medo e as árvores se curvavam para pegar os sons que o vento trazia. Orfeu apaixonou-se pela bela Eurídice e com ela se casou. A beleza da moça, porém, despertou o interesse de outro homem, Aristeu, o qual passa a perseguir Eurídice. Ela foge e, durante a fuga, tropeça em uma serpente. O animal pica Eurídice, que morre sob o efeito do veneno.

Orfeu então, desesperado, vai até o mundo dos mortos com sua lira para resgatar Eurídice. A canção amociona e convence o barqueiro a levá-lo ao encontro da amada. Sua canção ainda faz adormecer o cão de três cabeças responsável pela entrada do mundo inferior. Hades, o deus do submundo, fica muito irritado ao ver um vivo no mundo dos mortos, mas a música de Orfeu também o comove. Ele consegue a permissão de Hades para resgatar Eurídice, porém impõe uma condição: ela poderia sair seguindo Orfeu, entretanto ele só deveria olhar para ela novamente quando estiveressem à luz do sol. No caminho para fora do mundo inferior, Orfeu segue olhando para frente, até que, no intuinto de certificar-se de que Eurídice estava o seguindo, olha para trás e perde sua amada para sempre.

 

SOBRE O AUTOR:

É considerado um grande, e até o mais importante, pintor do romantismo e um dos principais pintores modernos. Com uma sólida formação musical e literária, decidiu dedicar sua vida à pintura. Delacroix, que viveu numa época de convulsões e mudanças, converteu-se em paladino da liberdade, tanto na arte e política quanto nos costumes. “A Liberdade Guiando o Povo” é sua obra mais conhecida.

Delacroix nasceu em 26 de abril de 1798 na cidade de Charenton-Saint-Maurice na França. Filho de um ministro da república que havia votado a favor da execução de Luís XVI no ano de 1793, Delacroix pertencia a uma família de grande prestígio social e, por isso, quando jovem, teve a oportunidade de frequentar colégios parisienses renomados (há, porém, historiadores que defendem que que seu pai teria sido o príncipe Talleyrand, seu mecenas). Quando tinha apenas sete anos seu pai faleceu e, então, ele passou a viver em Bordeaux, retornando a Paris alguns meses mais tarde na companhia de sua mãe. Após a morte da mãe, em 1814, Delacroix passou a viver na com sua irmã Henriette.

Nessa época, inscreveu-se como aprendiz no estúdio de Pierre-Narcisse Guérin, famoso pintor daquela época, marcando sua iniciação no estudo da pintura. Além disso, Delacroix também frequentava aulas de música no Conservatório de Paris. Mais tarde, ingressou na École des Beaux-Arts (Escola de Belas-Artes), onde conheceu Theodore Géricaul, um grande pintor que, mais tarde, lhe exerceria grande influência na dramaticidade, na maneira inovadora de usar as cores e na escolha de temas políticos para suas telas – diferentemente do que acontecia com os artistas clássicos e acadêmicos. Também, Eugène Delcroix foi bastante influenciado pelos trabalhos intensos e dramáticos de Rubens, pelas paisagens do inglês John Constable e pelos poemas de Lord Byron, cujos temas transportou para diversos trabalhos: começava alí uma produção artística que só teria fim com sua morte, 48 anos depois.

Sob influência do realismo romântico de Géricault, Delacroix expôs no Salão de 1822 a tela “Dante et Virgile aux enfers (“A barca de Dante”, comprado por Luis XVIII). A obra recebeu críticas positivas e negativas e a polêmica em torno dela só foi amenizada quando, no Salão de 1824, apresentou “Scènes des massacres de Scio” (“O massacre de Quios”, adquirido por Carlos X), na qual representou episódios dramáticos da guerra da independência da Grécia contra a Turquia. Vale dizer que, após observar em Londres obras de Bonington e de John Constable, Delacroix refez  o quadro “Scènes des massacres de Scio”, dessa vez realçando o colorido e separando as pinceladas. Por volta de 1827, o rei Felipe encomendou vários quadros de sua autoria, como a “Conquista de Constantinopla pelos Cruzados”.

A partir de então, Delacroix transformou-se no “alvo principal” dos acadêmicos da Escola de Belas Artes, adepta do neoclassicismo de David e Ingres. Ingres era o principal mestre conservador na primeira metade do século XIX e, na arte, seu adversário era Delacroix, que não gostava de conversar a respeito dos gregos e romanos e da insistência no desenho correto e na imitação de estátuas clássicas. Ingres e sua escola cultivavam o Estilo Grandiloquente e admiravam Poussin e Rafael e Delacroix o chocava ao preferir Rubens e os Venezianos. Eugéne acreditava que, na pintura, a cor era muito mais importante que o desenho e que a imaginação era mais importante que o saber.  Mais tarde, em 1827, com a tela “La mort de Sardanapale” (“A morte de Sardanápalos”),  de composição muito movimentada e cores vivas, passou a ser considerado o chefe da escola romântica francesa de pintura.

Comovido com os acontecimentos políticos de julho de 1830 e no intuito de manisfestar maior participação em relação aos temas políticos da França do momento, Delacroix pintou “A Liberdade guiando o povo”, hoje exposta no Museu do Louvre. “A Liberdade Guiando o Povo” (1831), é a obra mais famosa do pintor e foi um sucesso porque prestou glórias à democracia e à revolução que em 1830 havia colocado Luís Felipe no poder. Na ocasião, a obra foi imediatamente adquirida pelo governo pela quantia de 6.000 francos, considerada bastante alta na época e apesar do forte comprometimento político, o valor picturia é assegurado pelo uso das cores e das luzes e sombra.

Cansado dos temas eruditos que a Academia desejava que os pintores ilustrassem, Delacroix viajou, em 1832, para o norte da África a fim de estudar as cores resplandecentes as roupagens românticas do mundo árabe. Após viajar pelo Marrocos como membro de uma comitiva do embaixador da França com a missão de documentar os hábitos e costumes daquela terra, passou a retratar temas e episódios do Oriente Médio, intensificando e mostrando cores mais vibrantes. Além disso, encantou-se com o exotismo e luminosidade dos países que visitara e elaborou desenhos e aquarelas sobre os costumes dos árabes, que depois utilizou em telas como “Les femmes d’Alger” (“As mulheres de Argel”). Por esses motivos, essa viagem é considerada elemento marcante na trajetória do artista que viveu nesse momento uma importante experiência para sua arte (Delacroix retratou em seu quadro a visão que teve de Marrocos: realidade misturada ao mistério e ao exotismo). O quadro “Cavalaria árabe fazendo uma investida”, por exemplo, é fruto dessa viagem e representa uma negação aos ensinamentos de David e Ingres.

A partir de então, Delacroix passa a realizar trabalhos de grande escala em prédios públicos e igrejas, pintando murais e painéis. Por volta de 1836, por exemplo, foi convidado a elaborar uma série de decorações para o governo, dentre as quais a decoração do Salão do Rei no Palácio do Bourbon e da biblioteca do palácio de Luxemburgo. Um de seus maiores murais é o da capela dos anjos da Igreja de Saint-Sulpice e, especialmente no quadro que representa Jacó em luta contra o anjo, Eugène revela-se o “último grande muralista de tradição barroca”.

Seu primeiro quadro foi  A Barca de Dante, a qual faz referência à  A Barca da Medusa, de Géricault, para quem o pintor havia posado. (A Barca de Dante foi um dos temas preferidos do romantismo). Delacroix também acumula alguns desenhos com temas gregos durante a época em que a Europa romântica se entusiasmou com a causa grega. Vale também falar sobre a tela A Agitação de Tânger, importante devido aos seus elementos pictóricos que prenunciam o impressionismo.

Algumas pessoas comparavam Delacroix com Rubens e Michelangelo. Sua obras, porém, como O Massacre de Chios (1822),  A Morte de Sardanápalo (1827) e  A Tomada de Constantinopla pelos Cruzados (1840), baseadas em temas exóticos e históricos, não eram tão apreciadas como a dos pintores referidos. As composições de Eugène Delacroix eram mais caóticas e apresentavam uma dramaticidade e simbolismo quase incompreensíveis pela Academia.

Artista famoso pela intensidade de suas cores e por experimentos que revolucionaram a maneira de trabalhar os tons, Eugène Delacroix é o mais conhecido representante do estilo romântico na pintura. As cenas de paixão, violência e sensualidade, aliadas ao colorido das vestes e paisagens, fizeram a fama desse pintor da nobreza. Pode-se dizer que, por volta de 1840, apesar de já ter amadurecido seu estilo, suas pinceladas vigorosas e separadas, os tons dourados e a composição barroca, faziam lembrar os quadros de Rubens e Paolo Veronese.

Tendo participado diversas vezes do Salão de Paris e premiado com a Grande Medalha de Honra e a comenda da Legião de Honra, foi eleito membro da Academia de Belas Artes de Paris. Apesar das premiações e honrarias, Delacroix passou seus últimos dias de vida em reclusão em seu ateliê, onde permaneceu isolado até sua morte, aos 65 anos, em 13 de agosto de 1863, causada pelas crises de laringite que lhe afligiram durante grande parte da vida. Ainda, no ano de 1865, a primeira edição do seu “Diário” foi relevada, provando que, além de grande pintor, Delacroix era um escritor que pensava profundamente a respeito de sua arte. Num desses diários, inclusive, foi revelado que Delacroix não gostava de ser considerado como um rebelde fanático – porque se ele recebia essa caracterização, era porque não aceitava os padrões da academia.

O Romantismo no qual se insere Eugène Delacroix

O Romantismo caracteriza-se como uma reação ao neoclassicismo do século XVIII e historicamente situa-se entre os anos 1820 e 1850. Andando na contra-mão dos artistas neocássicos que imitavam a arte greco-romanona e os mestres do Renascimento italiano, submetendo-se às regras determinadas pelas escolas das belas-artes, os romanticos procuraram se libertar das convenções acadêmicas “a favor da livre expressão da personalidade do artista” (Santos, 2005:126). Por isso, a característica mais marcante do romantismo é a valorização dos sentimentos e da imaginação para a criação artística. Também, a valorização da natureza, o nacionalismo e o sentimento do presente compõe a estética dessa vertente.

Ainda, a pintura romântica aproxima-se das formas barrocas. Nesse contexto, Delacroix recuperou o dinamismo e o realismo negados pelos neoclássicos. Pode-se destacar nos quadros românticos uma composição diagonal, a qual sugere instabilidade e dinamismo ao observador, pelas cores e contrastes de claro e escuro que oferecem dramaticidade.

No que se refere aos temas, os fatos reais da história despertam mais interesse dos artistas do que os da mitologia greco-romana (apesar de a tela escolhida para ser estudada nesse trabalho trazer elementos da mitologia). Além disso, nos quadros românticos a natureza ganha importância e dinamismo que pode ser comparado às emoções humanas.

 

 

 

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