Lágrimas de Portugal

26 jan

Zélia Adelaide é uma imigrante portuguesa, que, como tantos outros, veio ao Brasil em busca de uma vida melhor. O texto relata um pouco de sua história, desde a infância, na pequena aldeia portuguesa em que vivia, até a chegada ao Brasil e as inúmeras mudanças sofridas em sua vida a partir de então. A breve infância em Portugal, a chegada ao Rio de Janeiro e, posteriormente, a mudança para São Paulo, os empregos, o casamento, o nascimento de seus quatro filhos e a morte dos pais são os pontos altos desse relato. Foi na casa que divide com o marido Moisés, que Zélia sentou para dividir conosco sua emocionante e comovente história de vida. Zélia Adelaide Pinto nasceu dia 28 de novembro de 1942 em Lamas, aldeia da região de Trás-os-Montes, Portugal. Filha de lavradores, o pai, José Joaquim Serra, e a mãe, Delmira dos Santos Pires, passavam a maior parte do tempo trabalhando no campo, deixando os outros quatro filhos aos cuidados de Zélia que, na época, tinha apenas dez anos. Porém, tamanha responsabilidade não impediu que ela realizasse seu sonho de estudar. Em seu depoimento, Zélia lembrou que a escola que frequentava localizava-se na própria aldeia em que nasceu. Lá, não havia banheiros para os alunos, os quais, em caso de necessidade, eram obrigados a correr às suas casas ou a alguma moita perto do prédio da escola. Ela ainda enfatizou que meninos e meninas tinham horários diferentes e estabelecidos para usar o “banheiro-matinho”. Contudo, a simplicidade das instalações não acabava com a diversão da criançada, que gostava de brincar de roda, de três marias e de esconde-esconde. Zélia conta que, devido à tradição religiosa portuguesa, os colegas de classe e todos os seus familiares se encontravam, indispensavelmente, na missa de domingo, momento no qual usavam suas melhores roupas. Ela ainda lembra que, no período de quaresma, as brincadeiras mais agitadas, que envolviam corridas, pulos e piruetas, eram deixadas de lado e os estudantes optavam pelas brincadeiras mais calmas que lhes permitiam ficar sentados no pátio da escola. Zélia estudou até o 4º ano do primário e não se esquece de sua prova final. Na época, era ritual que as mães das meninas costurassem vestidos novos para as filhas e as acompanhassem na realização do exame, que era feito em uma aldeia próxima de onde morava. Devido ao trabalho no campo, a mãe de Zélia não pôde acompanhá-la. Ela confessa que, apesar da melancolia, sentiu felicidade ao ver o reconhecimento e o orgulho nos olhos dos pais. Zélia lembra carinhosamente que o amor materno e paterno nunca foi ausente. Foi no ano de 1954, após muitos dias em alto mar nas apertadas e desconfortáveis acomodações de terceira classe do navio, que Zélia desembarcou com seu pai na cidade do Rio de Janeiro. A mãe havia permitido que a filha viajasse mesmo ciente de que a vida em Portugal se tornaria mais difícil sem sua ajudante. A família estava em busca de condições melhores, que dificilmente encontrariam na erma aldeia portuguesa. Zélia, ainda menina, sofria e chorava muito pela falta que sentia da mãe e dos irmãos. A saudade entre eles era recíproca. A vida que o Rio de Janeiro ofereceu a Zélia parecia difícil, mas não era nada perto do que eles iriam enfrentar após a mudança para São Paulo. No Rio, ela e o pai se hospedaram na casa de tias, que costuravam roupas e ofereciam todo conforto que estava ao alcance para mimar a menina que falava com sotaque arrastado. O tempo longe da família fez com que o pai, José, começasse a ficar deprimido e com vontade de retornar a Portugal. Entretanto, em 1956, uma tia que residia em São Paulo escreveu a ele pedindo para que não retornasse à “terrinha” e que mudasse para São Paulo, onde o clima era mais ameno e onde ele poderia se adaptar mais facilmente. Atendendo ao pedido, Zélia e seu pai instalaram-se no bairro de Itaquera, Zona Lesta da capital paulista, na casa dessa tia. Zélia explica que essa passagem foi a maior decepção de sua vida, pois na casa das tias cariocas tinha conforto e, em São Paulo, a casa em que se hospedou oferecia menos comodidade que sua residência em Portugal. Lá, não tinha água encanada e a louça tinha que ser lavada em uma bacia no quintal. Mesmo assim, o pai resolveu alugar uma chácara no bairro. Zélia se recorda de que, nesse período, São Paulo caracterizava-se pela grande quantidade de chácaras e pelas ruas sem asfalto. Ela ainda lembra que a maioria da população andava a pé ou de bicicleta, pois os bondes circulavam na maior parte do tempo no centro da cidade e, portanto, não eram acessíveis a todos os bairros. Na nova chácara, José criava duas vacas e um cavalo. Como era a única companhia do pai, Zélia, então com treze anos, tornou-se a responsável por tirar e vender, de porta em porta, o leite da vaca. Ela conta que percebia que as pessoas compravam seu leite por “dó e piedade”. Zélia passou a assumir responsabilidades de um adulto, uma vez que era ela quem cozinhava, lavava a roupa e cuidava da casa. Ela lembra que a casa era inteira de tijolo e, por isso, muito trabalhosa para limpar, assim como o fogão, que era movido a querosene. Zélia se recorda de que o fato de morar apenas com o pai dificultava conversas femininas. Ela lembra que quando, em suas palavras, “ficou mocinha”, seu pai foi bastante compreensivo e explicou a ela que toda menina daquela idade vivia aquela experiência. Zélia ainda conta que seu pai, na época, disse que se algum homem “chegasse perto” ela poderia ser mãe, por isso, sem entender muito bem, sempre que algum menino se aproximava, ela se lembrava das palavras do pai e, inocentemente, procurava se afastar. Zélia alimentava uma enorme vontade de trabalhar fora, porém, seu pai não permitia. Ela, então, por intermédio de uma tia, conseguiu um emprego no qual costuraria em casa e a mão, bolas oficiais de futebol. O uso de uma linha encerada fazia com que, aos quinze anos, as mãos de Zélia já fossem calejadas. Assim, cansada daquele emprego, Zélia encarou o pai e lhe disse que trabalharia fora de qualquer maneira, nem que fosse como empregada doméstica. No ano de 1958, José mandou que a mãe de Zélia e seus irmãos viessem de Portugal para o Brasil. Desse modo, com a mãe para auxiliar o pai, Zélia conseguiu o que queria e, aos quinze anos, já trabalhava como empregada doméstica em um apartamento na Avenida 9 de Julho. O trabalho havia sido arranjado por um “conhecido” que, mais tarde, viria a ser seu marido. Vale aqui dizer que o primeiro presente da vida de Zélia foi no aniversário de debutante, quando ganhou um par de sapatos. Mais tarde, Zélia saiu desse emprego e passou a trabalhar na casa de outra família, dessa vez no Jardim Paulista, onde morava um famoso decorador francês, sua mãe, esposa e os quatro filhos. A família Assumpção tinha quatro empregadas, além de uma passadeira e um motorista. Zélia começou como copeira e servia, inclusive, as festas que a família proporcionava. Nessas reuniões, ela conheceu pessoas da alta sociedade da época, como a cantora Maysa e outros membros da família Matarazzo, além de políticos e outros artistas. Mais tarde, ela assumiu o posto de babá e passou a cuidar das contas da casa quando os patrões viajavam. Ela conta que os pedidos da mercearia, açougue e padaria eram feitos por telefone, em um sistema delivery, o que não era nada comum na época. O reconhecimento de seu trabalho era motivo de orgulho para Zélia. Ela se sentia muito responsável e satisfeita por conseguir cuidar de uma casa grande e sofisticada como era a da família Assumpção. Ela também confessa que apreciava quando seus patrões elogiavam seu serviço e sua caligrafia deixada em bilhetes. A confiança depositada em Zélia era tão grande que os patrões a convocavam, até mesmo, para corrigir a lição de casa das crianças menores. Apesar da juventude, da simplicidade e do trabalho em uma casa que ostentava luxo, Zélia faz questão de ressaltar que nunca teve inveja ou se sentiu depreciada por não ter uma vida igual à do local de trabalho. Pelo contrário, ela relata que tinha a consciência de que no mundo havia pessoas ricas e pobres, e agradecia a Deus por aquele emprego, no qual era muito bem tratada e ganhava um bom salário. Zélia só abandonou o emprego quando decidiu se casar. Moisés Augusto Pinto, seu marido, pertencia à mesma aldeia portuguesa de Zélia. A paquera começou quando ele e o pai foram visitar a família Serra, o que era muito comum entre conterrâneos que tentavam manter laços com Portugal. Zélia conta que demorou em responder ao convite que Moisés lhe havia feito para um passeio. Os dois acabaram namorando durante um ano. Nos passeios, o casal saía elegante pelas ruas de São Paulo. Ela usava salto alto e Moisés, terno e gravata. Caminhar pelo aeroporto de Congonhas era atração para eles, que ficavam apreciando as decolagens e os pousos das aeronaves. Eles também iam a eventos no Parque do Ibirapuera, a bailes no clube da Portuguesa, a praças e faziam visitas a conhecidos. O pai de Zélia gostava muito de Moisés e aprovou o casamento, pois dizia que ele era um “rapaz trabalhador”. Todavia, Zélia afirma ter se casado cedo demais; tinha apenas dezoito anos. Ela conta que se pudesse voltar no tempo, não teria se casado com essa idade, já que havia perdido boa parte de sua infância devido à vida difícil e ao rápido ingresso a um relacionamento, que culminou na formação de uma família. O casamento foi, segundo palavras da noiva, muito bonito. Na época, era costume o noivo comprar o vestido branco para presentear a futura esposa. Assim aconteceu com Zélia, que ganhou um vestido comprado na tradicional Rua São Caetano. Os noivos reuniram as famílias para uma grande festa, ao estilo caipira. José Joaquim mandou matar um bezerro para a ocasião, e a festa teve muita fartura. Os recém-casados, contudo, não puderam aproveitar muito, pois partiram rapidamente para Poços de Caldas, onde passaram a lua-de-mel. Na volta da viagem, Zélia foi morar na casa dos sogros em Santana, zona norte de São Paulo, onde ficou por sete anos. Lá, nasceram os dois primeiros filhos, Luis Antônio e Ana Maria. Ela conta que morar com a sogra por vezes ajudava e por vezes atrapalhava, principalmente pelo fato de divergirem nas opiniões sobre a criação dos filhos e sobre as normas da casa. Oito anos mais tarde nasceu a terceira filha, Maria Fernanda. O quarto filho, Luis Eduardo, nasceu com uma diferença de dezessete anos para o primeiro filho e de apenas doze anos para a primeira neta. Educar os filhos, sobretudo os primeiros, foi bastante complicado para Zélia, uma vez que, além da função de mãe, ela ajudava na mercearia que Moisés possuía em sociedade com o pai dele, na Avenida 9 de Julho. Zélia revela que quem ajudava a cuidar do filho mais velho era o pastor-alemão “Amigo”. Ela conta que quando Luis chorava, o cão ia correndo avisá-la e não saía de perto enquanto ela não fosse acalmar o bebê. Ele era, segundo Zélia, a “babá eletrônica” da família. No entanto, apesar da ajuda dos sogros, pequenas discussões acabam surgindo na família. Tudo o que Zélia desejava nesse momento de sua vida era a casa própria. Foi nesse período que ela e Moisés compraram uma padaria na Zona Norte de São Paulo e passaram a morar no segundo andar do estabelecimento, onde, na verdade, deveria funcionar um depósito de farinha. Lá, havia apenas um quarto, um banheiro e uma cozinha para quatro pessoas, mas, felizmente, essa situação durou pouco tempo, cerca de um ano e meio. A família, então, vendeu essa padaria e comprou uma mercearia no bairro do Imirim. Zélia conta que, apesar de ter trabalhado muito nesse comércio, foi o melhor período de sua vida. Ela diz sentir saudade dos momentos em família e do começo das conquistas. Era um período alegre, pois ganhava dinheiro, divertia-se, conversava com as pessoas sem medo da violência. Ela lembra que um telefone, objeto raro na época, instalado à disposição da clientela, era um dos atrativos da loja. Zélia ainda destaca que nessa época, faltavam mercadorias, como o leite, pois havia mais consumidores do que quantidade de produtos fabricados. Ela conta que, nos casos de escassez, guardava alguns sacos de leite para os clientes mais fiéis. Essa mercearia, mais tarde, foi vendida e o casal montou um mercado no bairro de Itaquera, em 1983. A inflação nesse período era muito alta e Zélia não se esquece da loucura que era remarcar os preços várias vezes ao dia. Nesse mesmo ano, ela voltou a Portugal e revela ter sido emocionante rever sua terra e a casa onde nasceu. Nessa viagem, ela conta que aproveitou para conhecer a França. Nos anos seguintes, Zélia retornou a Portugal, acompanhada dos filhos e dos netos, diversas vezes. Ela adora passear com a família por lá e contar histórias da sua breve infância. Após a venda do mercado, a família comprou uma lanchonete na Avenida Paulista, mas nesse período Zélia já não trabalhava mais, pois sócios substituíam sua mão-de-obra. Ela passou, então, a dedicar-se à família e à casa. Entre conquistas e experiências, Zélia sofreu os choques naturais da vida, como a morte dos pais. Ela perdeu a mãe, vítima de uma parada cardíaca, aos 56 anos. Neste dia, ela conta que, na busca da receita do fular, tradicional pão português, havia conversado muito com sua mãe por telefone. Ao saber da morte de dona Delmira, a família tentou esconder a notícia de Zélia, que estava no 8º mês de gravidez do quarto filho. Porém, ela teve certeza da perda quando viu sua irmã no hospital, sentada, segurando os anéis e brincos da mãe. Desde então, o fular passou a compor uma tradição culinária na casa de Zélia. Sete meses depois da morte da mãe, o pai de Zélia sofreu um derrame no dia do aniversário dele. No hospital, sofreu outro derrame, que deixou todo o seu lado direito paralisado. Zélia sofria no corredor do hospital ouvindo os gritos do pai, que dizia ter um “formigueiro na cabeça”. Nos três meses de internação, ela ia visitá-lo todos os dias. Via o pai agressivo pelo fato de estar amarrado na cama por causa de uma tentativa de fuga. Zélia se dividia entre a responsabilidade de cuidar do pai e do filho caçula, então com oito meses. Após receber alta do hospital, José ficou hospedado na casa de Zélia sob seus cuidados. Ela relata que a impressão que tem é que seu pai sabia quando ia falecer, pois, naquele dia, chamou muito por ela e por Moisés para pedir desculpas por qualquer coisa que pudesse ter-lhes magoado algum dia. Para falar sobre a grande felicidade que são os netos, Zélia se esquece, ao menos por um tempo, das tristezas. A primeira nasceu no ano de 1990 e a última em 2008. Por enquanto, são sete netos no total e ela ainda conta com a possibilidade de ganhar mais netinhos, já que o filho caçula ainda não tem filhos. Com o passar dos anos, a família, que Zélia sempre esteve acostumada a ter por perto, foi se espalhando pelo Brasil e pelo mundo. Em 1999, o filho mais velho, a nora e três netos se mudaram para Portugal. Ela conta como foi difícil perder a convivência, especialmente com os netos, que adorava paparicar. Eles acabaram retornando ao Brasil seis meses depois, mas a família continuou a se espalhar. Hoje, o filho mais velho, Luis Antonio, vive em São Paulo, Ana Maria mora em Cotia, Maria Fernanda em Goiás e Luiz Eduardo em Portugal. Zélia revela que as festas de fim de ano, quando a família toda se reúne em sua casa, é a época de maior alegria do ano. Ela diz que o que sente não é tristeza, mas sim um vazio; o mesmo vazio que ela sentia quando deixou Portugal para construir uma vida no Brasil.

Por Liz Terra, Camila Miguel Pinto e Ana Luiza Gelardi Zainaghi

Reeditando um texto…

3 dez

ORIGINAL:

Fonte:

http://moda.terra.com.br/interna/0,,OI4041787-EI1119,00-Salto+alto+foi+criado+para+o+rei+Luis+XV.html, acessado quinta-feira dia 15 de outubro de 2009 às 19h59

Salto alto foi criado para o rei Luis XV

A paixão por sapatos existe desde o século 17

A loucura por saltos não é algo novo, vale dizer. Afinal a obsessão de homens e mulheres pelo acessório existe desde o século 17 quando foi criado pelo rei da França Luís XV, que queria ser mais alto do que seus 1,60m. Como a França era lançadora de tendências, a moda se espalhou por toda a Europa e virou símbolo de status.

Ironia ou não, um dos objetos mais desejados pelas mulheres foi criado por um homem. Mas a origem do salto remonta antigas tribos africanas quando as mulheres eram colocadas em pedestais em cerimônias de homenagem, simbolizando seu valor e importância maior do que os homens. Na Itália, no século 18, os nobres, tanto homens quanto mulheres usavam plataformas de até 70cm (você leu bem, sim, 70 cm), chamadas de chopines, e precisavam do auxílio de dois criados para manter o equilíbrio. Era produto de status, pois somente os ricos tinham recursos para este luxo. Quanto mais alto era o calçado, mais alta era a posição social do seu proprietário.
Na década de 1950, nasce o modelo que seria eternizado como símbolo máximo de sensualidade e até fetichismo. O stilleto, ou salto agulha, foi fabricado por um italiano que criou um salto com miolo de metal, inovação que permitiu os saltos mais finos jamais imaginados, difíceis de caminhar. Se olharmos os lançamentos das coleções, parece que não existe intenção em facilitar a caminhada, mas talvez a relação de dor e amor esteja chegando ao fim, pelo menos por um período. Nos Estados Unidos, as mulheres estão aplicando botox e preenchimento nas plantas dos pés para evitar a dor dos saltos altos. Tudo em nome do “vício”.

Michelle Achkar

REEDIÇÃO DO TEXTO, com o mesmo número de caracteres:

Tudo pelo glamour do sapato de salto alto

A tecnologia supera os desafios do salto alto

A paixão pelo sapato de salto alto é mais antiga do que muitos imaginam. Ironia ou não, esse acessório tão cobiçado pelas mulheres foi, na verdade, criado por um homem. Aborrecido com seus 1,60m de altura, o rei francês Luis XV, no século 17, inventou o salto alto, transformando-o, desde então, em símbolo de status e de luxo.

A França, nesse período, já famosa por ser criadora de tendências no mundo todo, espalhou a moda por toda Europa, fazendo-a perdurar até hoje nos desfiles e nas coleções a cada nova estação. Com o passar dos anos, entretanto, de acordo com a tendência da moda e do contexto histórico de cada época, os modelos de sapato de salto sofreram inúmeras transformações. Foi somente na década de 50, por exemplo, quando um italiano inventou um salto com miolo de metal, que nasceu o modelo “salto agulha”, permitindo a fabricação dos saltos mais finos jamais imaginados, capazes de expressar a feminilidade de uma maneira nunca antes vista na história dos saltos altos.

Símbolo de poder, de sensualidade e de elegância, os saltos altos tornaram-se um item indispensável na composição do traje feminino, apesar da dificuldade de caminhada e dos problemas como, dores nos pés e na coluna que podem causar. Porém, essa relação de amor e dor pode estar chegando ao fim. Além do fato de a tecnologia acrescentar novas opções de materiais capazes de deixar os calçados mais confortáveis, nos Estados Unidos, as mulheres descobriram a solução para evitar as dores dos saltos altos na aplicação de botox e preenchimento nas plantas dos pés. Segundo as vaidosas, são os sacrifícios da beleza.

Liz Terra

“O Anticristo”, de Friedrich Nietzsche

18 nov

“O evangelho morreu na cruz”

“Deus está morto”

O Anticristo é um livro que não merece ser julgado por seu título, uma vez que não fundamenta suas críticas a Jesus Cristo, mas sim ao cristianismo. Escrito em 1888 e publicado em 1895, é uma das mais amargas críticas aos valores estabelecidos em dois mil anos de cristianismo. Nele, Nietzsche meche com as bases do cristianismo ocidental, além de propor a “transmutação de todos os valores”, o qual constitui no seu maior plano. São 62 capítulos durante os quais mantém o tom agressivo com o intuito de desmascarar o cristianismo.

A trajetória de vida de Nietzsche ajuda compreender a motivações que influenciaram na formulação de sua teoria. Friedrich Nietzsche, membro de uma família religiosa composta por pastores luteranos, nasceu no ano de 1844 na cidade de Rocken. Um menino cuja infância trágica, marcada pelo falecimento do pai, pastor luterano, e do irmão, fez com que buscasse na literatura um refúgio do sofrimento. Ganhou bolsa de estudos num colégio interno e dedicava-se à teologia, uma vez que queria formar-se pastor em homenagem ao pai. Era reconhecido por ser um homem a frente de seu tempo.

Porém, mais tarde, abandonou a teologia e, contrariando a família, escolheu a filologia clássica para especializar seus estudos. Foi reconhecido como doutor em filosofia, sem nem mesmo ter um doutorado A partir de então, firmou-se profissionalmente e publicou livros polêmicos. No ano de 1879 começou a sentir fortes dores na cabeça e na vista que passaram a prejudicar sua leitura, culminando no fim de sua carreira profissional. Sua irmã, Elisabeth, mercenária e, aproveitando-se da doença do irmão, forjou seus escritos, vendendo-os à mais perversa ideologia nazista.  Foi internado em clínica psiquiátrica e, solitário, não compreendia a indiferença que o cercava. Faleceu no ano de 1900 em Weimar.

A primeira das três fases do filósofo foi influenciada pelos textos de Schopenhauer e pela música de Richard Wagner, a partir do qual Nietzsche elabora sua teoria acerca da “vontade de poder” a qual defende que o homem moderno deve ser tomado por um impulso a fim de superar a si mesmo.

No livro, Nietzsche faz críticas à Paulo, o primeiro teólogo a inverter os valores de nossa existência e combate o idealismo da metafísica platônica, fortemente popularizada pelo cristianismo, além de classificá-la, juntamente com a religião, formas ultrapassadas e culpadas pelo atraso da humanidade. Ele também afirma a necessidade da criação de uma nova cultura, composta por novos valores, que não seja fundamentada na literatura que trata Cristo a partir de uma visão romantizada. Nietzsche ainda fala sobre o “além-homem”, um novo tipo de homem capaz de conviver com suas limitações e superações; defende o fim do império moral sobre a existência, afirmando que os valores devem surgir sem o sentimento de culpa estabelecida pela moral cristã; critica a atitude do ser humano de criar um Deus para preencher seu vazio existencial; defende acirradamente o amor à vida, o único capaz de libertar do niilismo; demonstra simpatia pelo budismo, entre outros inúmeros argumentos que contrariam o cristianismo e todas as vertentes que ele tomou. Ele, contudo, não intensiona conquistar seguidores e massificar seus pensamentos, mas sim fulminar tudo que é cristão ou que está infeccionado pelo cristianismo.

Para muitos filósofos, Nietzsche constitui num paradoxo, uma vez que provoca, simultaneamente, sentimentos de afastamento e de aproximação de sua filosofia. A filosofia nietzschiana é também conhecida como “filosofia do martelo”, destinada aos fortes capazes de encarar os sofrimentos e as alegrias da vida sem a influência religiosa.

As aproximadamente 100 páginas que exigem atenção e dedicação do leitor por sua nada branda compreensão, alastram o desabafo de um ateu inconformado em ver a humanidade corrompida e derrubada por aquilo que considera a essência do desmoronamento da humanidade, o cristianismo.

Uma leitura delicada, especialmente para o leitor cristão, deve ser tratada como uma obra filosófica, dispensada de pré-julgamentos, e tomada como o relato de um homem empenhado na evolução da humanidade. Mesmo após duzentos anos, uma obra atual pelo fato de a moral e o ressentimento ainda estarem presentes no mundo cristão.

“A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica”

9 nov

 

O ensaio “A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica”, publicado, originalmente em 1936, é um dos mais reconhecidos textos do alemão Walter Benjamin pela importância e atualidade de suas ideias. Nele, o autor discute as inúmeras maneiras pelas quais é possível entender uma obra de arte, abordando, não só, a questão da sua autenticidade, mas também, o fator atual da tecnologia, da industrialização capitalista e da comercialização da cultura. Daí a atualidade do pensamento de Benjamin.

O texto discute a unicidade da obra de arte nas sociedades pré-modernas devido à não existência de técnicas de reprodução. É nesse contexto que o alemão trata a chamada “Indústria Cultural”, explicando que a aura, estabelecida pela distância entre a obra e o observador, determina o valor cultural e a autenticidade da obra de arte, ao passo que, qualquer reprodução era tida como falsificação. Numa análise dessa questão nas sociedades atuais, o autor debate as modificações ocorridas nas técnicas de reprodução que possibilitaram à arte a “mobilidade” (não fixação) de espaços e, portanto, a abrangência dos mais diversos lugares e espectadores.

O contexto social e econômico contemporâneo é aquele que valoriza a maior quantidade de lucro em um menor intervalo de tempo a fim de facilitar o cotidiano das pessoas. Nessa conjuntura, Walter Benjamin questiona a possibilidade de se contemplar uma obra de arte, não onde ela foi elaborada, mas onde ela está reproduzida, desde que esteja lugar mais próximo ao indivíduo.

Em seu ensaio, afirma que o aparecimento da fotografia marcou o desenvolvimento das novas formas de arte, pois promoveu o desaparecimento da distinção entre cópia e original e substituiu a noção de existência da singularidade pela condição de multiplicação de uma mesma obra. Já o cinema, também tratado no texto, aparece sob a reflexão acerca da substituição dos espectadores pelos intérpretes dos aparelhos de filmagem durante a gravação. Benjamin aproveita-se dessa discussão para comparar as imagens captadas pelo pintor e pelo cameraman, ressaltando a capacidade deste de ampliar a percepção do espectador devido à profundidade com que atua em certos contextos. Sobre esse tema, o autor declara as grandiosas produções cinematográficas e a “fábrica” de estrelas, os responsáveis pelo cenário capitalista do mundo atual que visa o valor mercantil da obra de arte, manifestando, mais uma vez, a atualidade de suas ideias.

A partir dessa análise, Walter, também, elucida a atual preponderância do valor expositivo da obra de arte sobre seu valor ritualístico: a fotografia e o cinema são formas de arte acessíveis para um numeroso público. Capazes de atuar como instrumentos politizadores, florescem o senso crítico no observador, além de tornar mais democrático o acesso à obra de arte. Portanto, a “arte da bela aparência” , como é chamada, não é vista pelo autor de modo pessimista: para ele, a reprodução da arte pode por em risco a autenticidade e a aura, porém, por outro lado, torna as obras de arte mais acessíveis a um maior número de pessoas. É nesse caráter da reprodução técnica que Benjamin vê a possibilidade de democratização da estética a partir da conservação das características do produto original.

O autor, mesmo em meados dos anos 30, foi capaz de prever o cenário que domina a época presente: “A arte surge como um elemento radical na sociedade, independente do contexto histórico que se viva”.

Pamonhas, pamonhas, pamonhas, pamonhas de Piracicaba

3 nov

As pamonhas de Piracicaba já são parte da cultura popular brasileira. Conheça a historia da famosa iguaria piracicabana e saiba sobre a construção da nova fábrica de pamonhas e os projetos sociais nela contidos.

pamonhas de piracicaba

A história

T

udo começou em meados dos anos 50, quando as irmãs Vasthy e Noemi Rodrigues começaram a fabricar pamonhas de forma caseira para enfrentar a dificuldade financeira pela qual passava a família. Herança deixada pela mãe, Dona Benedita Rodrigues, a receita da pamonha inovava na forma e no preparo: era diferente da tradicional pamonha quadradinha de Minas Gerais e, sem adição de outros produtos, o creme de milho era adoçado com açúcar e cozido em uma embalagem costurada com a própria palha do milho.

Após preparar algumas receitas, Dona Vasthy colocou a iguaria numa cesta divulgando o produto de porta em porta pela cidade. Logo no primeiro dia vendeu cerca de 200 pamonhas, surpreendendo a todos.

As vendas cresceram e, logo, a cesta foi substituída pela carroça. O sucesso conquistado pelo sabor atraiu outras pessoas interessadas em vender a pamonha, possibilitando às irmãs o aumento da produção.

O primeiro vendedor motorizado das pamonhas foi o filho caçula de Vasthy que, numa Kombi, vendia o quitute por toda região. O famoso jingle da pamonha foi gravado por Dirceu Bigelli e é a sua gravação que predomina até hoje entre os comerciantes.

Na década de 70, atingindo o auge, a produção alcançou o número de 6 mil pamonhas por dia. Vasthy, então, montou uma fábrica para atender a demanda, negócio no qual se dedicou até seu falecimento em 1983. Sua irmã, Noemi, tentou dar continuidade à fábrica, porém, a família não conseguiu manter a qualidade das pamonhas e, como conseqüência, a procura caiu e as máquinas, colocadas à venda.

“Pamonhas, pamonhas, pamonhas, pamonhas de Piracicaba…”

Criada por Dirceu Bigelli, a famosa gravação “Pamonhas, pamonhas, pamonhas, pamonhas de Piracicaba” é considerada ponto de partida para a descoberta da origem da pamonha.

Dirceu, um vendedor de talento, a fim de incrementar as vendas do quitute que cada dia fazia mais sucesso, abusou de sua criatividade e, na década de 70, criou o famoso jingle da pamonha. Sua atuação no crescimento das vendas refletiu nas condições favoráveis para a construção da fábrica de pamonha de Dona Vasthy Rodrigues.

Mesmo após o fechamento da fábrica, Bigelli continuou comercializando pamonhas que comprava de outros fabricantes; parou de vendê-las em 1990 quando sofreu um acidente de carro e faleceu.

A gravação, no sotaque caipira de Dirceu, foi difundida pelos automóveis e predomina até hoje entre os vendedores espalhados pelo Brasil. Atualmente, seu slogan é uma referência da cidade em todo país.

“… Pamonhas, pamonhas, pamonhas,

Pamonhas de Piracicaba,

É o puro creme do milho-verde,

Venha provar minha senhora…

É uma delícia

Pamonhas fresquinhas,

Pamonhas caseiras,

Pamonhas de Piracicaba…

É o puro creme do milho-verde,

Uma delícia,

Venha provar!

Pamonhas, pamonhas, pamonhas…

Pamonhas de Piracicaba…”

O jingle da pamonha pode ser escutado no site do youtube: http://www.youtube.com/watch?v=2Oc5ZTe4GTw

As informações acerca da história da pamonha piracicabana e de seu jingle contaram com a colaboração das pesquisas realizadas por Silmara Feres, consultora do Sebrae-Sp.

A nova fábrica de pamonhas: além do milho, açúcar e água…

A pamonha de Piracicaba ganhará uma fábrica ainda este ano. O projeto combina inovação tecnológica, controle de qualidade e incentivo aos pequenos produtores rurais. Uma receita para o desenvolvimento sustentável com geração de emprego e renda.

A implantação da Agroindústria do Centro Rural de Tanquinho, já conhecida como a fábrica de pamonhas, é fruto do Programa de Verticalização da Agricultura Familiar na Cadeia Produtiva do Milho Verde. Um projeto que reúne o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, (Esalq), o Centro Rural de Tanquinho, a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Piracicaba e a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), financiadora do projeto.

O projeto teve início em 2003 e tem como objetivo inserir o pequeno produtor rural no mercado de trabalho, criar oportunidade de geração de renda, além de incentivar a história e cultura do município de Tanquinho, distrito de Piracicaba.

Instalada num galpão que ocupa uma área de 500 metros quadrados do Centro Rural de Tanquinho, a fábrica de pamonhas já está com a infra-estrutura pronta. Com capacidade inicial de produção de 6 mil pamonhas por dia, a comercialização do produto está prevista para o segundo semestre deste ano.

Foram necessários quatro anos de pesquisa para identificar as condições adequadas de higiene para o processo fabril de produção de pamonhas. Os estudos revelaram que uma pamonha de qualidade, que garanta a segurança alimentar do consumidor e livre das bactérias comuns do milho deve ser cozida durante 50 minutos a 100ºC. Os experimentos apontaram, também, a necessidade de higienização da palha que envolve o creme do milho. A validade da pamonha é de até seis dias, se mantidas a uma temperatura de 4ºC.

Inovação tecnológica

O presidente do Centro Rural de Tanquinho, professor José Albertino Bendassolli, conta que foi necessária a construção de equipamentos especiais, já que não existe nada semelhante no mercado. “As máquinas foram fabricadas por uma empresa especializada e nossa intenção é patenteá-las”.

A linha de produção da fábrica segue uma seqüência: a primeira máquina, o “Despolpador”, assume a função de retirar as espigas do milho e montar os grãos, transformando-os em um creme; a segunda máquina, o “Formulador”, adota como responsabilidade misturar os ingredientes da pamonha – milho moído, água e açúcar; a terceira máquina, o “Envasador”, tem como papel determinar um volume padrão de creme para cada palha que envolve a pamonha. Finalmente, a linha de produção é finalizada com máquinas de costura para o fechamento da palha, quando seguem para a etapa de cozimento. O procedimento conta, também, com um sistema para higienização da palha. Segundo o professor Bendasolli, o processo de produção, envolvendo todas as etapas, leva cerca de três horas.

O projeto é uma alternativa para os pequenos produtores rurais que poderão diversificar seus cultivos: “Dos 100 mil hectares plantados na região, apenas 1% é destinado ao milho, sendo o restante do espaço, privilegiado pelo plantio da cana de açúcar. Vista a crise na qual estamos inseridos, a cultura do milho pode atuar como alternativa capaz de gerar empregos e recursos através da venda e comercialização do produto, além de valorizar o trabalhador rural”, alerta José Albertino Bendassolli.

“Após o início da produção, a idéia é montar, ao lado da fábrica, uma loja para a venda da pamonha”, conta o professor.

A Festa do Milho

É uma festa que acontece todos os anos no município de Tanquinho, distrito de Piracicaba. Este ano, a festa ocorreu todos os fins de semana entre os dias 7 e 22 de março.

Com a fábrica ainda fora de operação, os preparativos para a 35ª Festa do Milho seguiram os rituais tradicionais: 35 pessoas num trabalho artesanal que vai desde a tarefa de descascar e limpar o cabelo do milho até o cozimento e fechamento da palha que armazena o creme. A etapa de ralamento do milho é a única que conta com a colaboração de duas máquinas.

Seis dias de trabalho para preparar as 20 mil unidades de pamonha consumidas pelo público, além dos outros quitutes à base de milho, como o cuscuz, o mais vendido durante a festa”, diz José Albertino.

Porém, segundo o professor, as expectativas para festa de 2010 são diferentes: “Com a fábrica em operação, a previsão é produzir 100 mil unidades de pamonha para a festa do ano que vem. Hoje, em doze horas de trabalho, a capacidade de produção é de 3 mil unidades por dia; com o maquinário disponível, em oito horas de trabalho, a capacidade será de 6 mil pamonhas”.

Na Rua do Porto…

A Rua do Porto é ponto turístico da cidade. Os restaurantes, conhecidos pela oferta de peixes e frutos do mar, distribuem suas mesas ao longo da beira do rio onde os visitantes sentam para almoçar, bater papo e apreciar a paisagem. Entre os restaurantes, as tradicionais barraquinhas que comercializam uma variedade enorme de quitutes, marcam o cenário, atraindo diversos consumidores. Entre elas, claro, a barraca da famosíssima pamonha piracicabana.

Seu Osvaldo Zanatta, 65 anos, comercializa a pamonha há 15 anos. Sua barraquinha, localizada na beira do Rio em frente à Ponte Pencil, lugar de destaque na Rua do porto, vende em média 350 pamonhas por fim de semana.

A iguaria é fabricada em casa por ele e por sua mulher, Terezinha Zanatta. “Nós acordamos às quatro horas da manhã nos fins de semana, pois para garantir a qualidade do produto, a pamonha deve ser fabricada no dia do consumo”, garante Osvaldo.

Ele chama atenção para a preferência do público pela pamonha doce. As salgadas, como alerta Terezinha, só são feitas sob encomenda. “Antigamente produzíamos a pamonha no sabor salgado, mas elas sempre sobravam e acabam trazendo prejuízos para nós. O piracicabano gosta mesmo é da doce”.

Seu Osvaldo relata em meio a risos que, quando o comprador pede a pamonha salgada, ele logo deduz que é turista: “Eles assustam e me perguntam como eu sei que não são piracicabanos”.

Durante a conversa com o casal Zanatta, surge um cliente que pede uma pamonha salgada, Seu Osvaldo logo indaga a origem daquele comprador. Curitibano, Edilson Almeida veio visitar o irmão na cidade, o qual sempre faz propaganda da pamonha para a família. “Eu não podia vir para Piracicaba e deixar de comer a pamonha de que tanto fala meu irmão. É muito gostosa mesmo, está aprovada!”.

Além da Rua do Porto, é possível encontrar a pamonha nos varejões espalhados pela cidade, em alguns supermercados e, também, na rodoviária, local de chegada de muitos visitantes que logo chegam procurando o quitute.

A pamonha e a nova geração

A nostalgia trazida pela lembrança do carro que rodava as ruas ao som do jingle da pamonha é marca na vida dos piracicabanos já “maduros”. Entrevistas com jovens residentes na cidade revelam que, apesar de reconhecerem a importância da pamonha para a cidade e sua música característica, ela já não exerce tanta influência como fez na vida dos mais velhos.

Cheyene Ramos Morato, 15 anos, conta que em sua casa, quem costuma comprar a pamonha é sua avó. “Eu como pamonha somente quando minha avó compra para mim. Penso que quando ela era mais jovem, devido à época de fama da pamonha, o hábito de consumi-la era maior e, por isso, é ela quem compra”.

A nova geração, muitas vezes, nem sequer experimentou o quitute que já agradou e que agrada tantos paladares: “Moro em Piracicaba desde os dois anos de idade, porém, nunca provei a pamonha. Vou ainda mais longe: não sabia da existência do sabor salgado. Já experimentei a pamonha mineira, mas, apesar de ter gostado, não é uma comida que me dá água na boca”, diz Fernando Cintra, 16 anos, estudante.

O carro com o auto-falante tocando o jingle da pamonha que tanto caracterizava as ruas de Piracicaba, também já não cumpre mais seu papel e é difícil de ser encontrado na cidade. “É raro minha família comprar a pamonha. Talvez, se o carro da pamonha passasse com mais freqüência pelas ruas da cidade, consumiríamos mais o produto”, argumenta Vinícius Altafin Rodrigues, 16 anos.

O futuro da pamonha

O resgate cultural a partir das pesquisas acerca da história resgate cultural obtidoficado da pamonha para a cidade e para a nova geracao.onha [e da pamonha de Piracicaba, além de disponibilizar a biografia do quitute mais famoso do país e de colaborar com a instalação da nova fábrica, tem como meta, criar projetos de divulgação e estratégias mercadológicas essenciais para a comercialização do produto, incentivar o turismo local e resgatar o significado da pamonha para a cidade e para a nova geração.

Direito de Imagem

19 out

A imagem sempre foi objeto de proteção em nossa legislação. Felizmente, hoje a importância voltada a esse objeto de polêmica é muito maior do que em outros tempos.

Antes do advento da fotografia, a imagem humana era exclusividade da pintura, dos desenhos e das esculturas e, portanto, não havia problemas em relação ao direito de imagem, uma vez que tais “artes” eram sempre encomendadas e, muitas vezes, exigia a presença do próprio dono da imagem para sua realização. Contudo, após o nascimento da fotografia e o crescente aperfeiçoamento das tecnologias, criou-se a possibilidade de obter a imagem de pessoas sem seu conhecimento ou autorização e de, até mesmo, reproduzir infinitamente essas imagens. A partir daí iniciam-se polêmicas acerca da do direito de imagem e da relação entre os meios de comunicação e sua cada vez maior associação com a imagem das pessoas.

Imagem:

Por imagem, compreende-se toda forma visual, seja da face ou de qualquer outra parte do corpo, que permita identificar certo individuo. É objeto de proteção prevista em lei devido ao fato de estar diretamente relacionada à personalidade do ser humano. É a imagem do homem, ligada ao seu nome e caráter que constrói a identidade, a reputação e o “patrimônio pessoal” que um sujeito conquista ao longo de uma vida. Por imagem compreende-se, portanto, além da aparência física do indivíduo, sua imagem moral a qual o dignificará perante a sociedade.

Diferentemente do passado, atualmente, qualquer pessoa tem o direito de zelar sobre sua imagem e honrá-la, mediante recebimento de indenização, caso esta seja violada por terceiros sem autorização. Portanto, uma vez garantido o direito de indenização, pressupõe-se que a exposição da imagem de um indivíduo, muitas vezes pode acarretar danos morais e materiais.

Direito de personalidade:

Personalidade, além de ser um bem adquirido desde o nascimento, é aquilo que define o caráter e as ações de uma pessoa dentro do seu meio social. Entende-se por direito de personalidade ou direito de personalismo o conjunto de normas que defendem e protegem as características individuais, sobretudo as integridades física, moral e intelectual, de cada indivíduo. O interesse privado também se relaciona ao direito de personalidade.

Direito de Privacidade:

Converge-se ao direito de imagem, o direito de privacidade. O direito de privacidade consiste no direito de estar só, de não ser monitorado e registrado e de proteger a exposição da intimidade, como a vida doméstica, o trabalho, a família, entre outros registros pessoais, ao grande público.

Direito de imagem:

Apesar de não ser necessário uma lei para conscientizar a sociedade de cada indivíduo possui direito sobre sua imagem, ela foi criada, sobretudo, devido ao uso indevido que dela se adota por terceiros.

O artigo 5º inciso X da Constituição Federal protege o direito de imagem dos indivíduos. Além de garantir a inviolabilidade da imagem, da honra e da moral das pessoas, prevê, também, o direito de indenização em caso de violação desta; o artigo 5º inciso V assegura o direito de resposta proporcional à ofensa e, também, a indenização por dano material, moral ou da imagem e, finalmente, o artigo 5º inciso XXXVII garante a proteção às participações individuais em obras coletivas e a reprodução da imagem e da voz do homem, inclusive em atividades esportivas.

É relevante advertir que a lei só garante ao indivíduo o direito de proibir a exposição ou utilização da sua imagem quando o fato representar ofensa à honra ou se destinar a fins comerciais.

Se uma pessoa for fotografada num local público, por exemplo, e sua imagem aparecer em campanhas publicitárias cujo plano de fundo for, justamente, um local público e não houver foco na imagem de tal pessoa, não há transgressão à lei ou o direito de exigir indenização sobre o uso da imagem, porque esse caso não caracteriza prejuízo moral ou material. Já quando a participação se der de maneira ativa, deverá haver consentimento tratado previamente em contrato, pois são nesses casos que ocorrem a maior partes dos problemas, já que há ocorrências em que as imagens são utilizadas para situações diferentes da combinada, podendo acarretar danos ao indivíduo.

Uma celebridade ou um famoso pode ser fotografado fazendo aquilo que lhe dá fama: o jogador de futebol jogando bola, o músico tocando instrumento e assim por diante; caso contrário, a imagem caracterizará invasão de privacidade. Deputados, ministros, políticos em geral são pessoas públicas por excelência e, portanto, podem ser fotografados sem restrições, mesmo em sua “intimidade”, pois a conduta particular destes influi diretamente no voto da sociedade. Os detentos recebem proteção do Estado através da Constituição Federal (XLIX) o qual assegura aos presos o respeito à integridade física e moral.

O termo imagem moral refere-se à imagem de um indivíduo perante o meio social ao qual está inserido e, caso esta for associada a algo “mal visto” pela sociedade, grandes constrangimentos podem ser causados. Por isso, é necessário entender que ao permitir o uso da imagem, devem-se respeitar certos limites. Porém, atualmente, esses limites, muitas vezes, não são acatados e o desenvolvimento tecnológico que permite fotografar pessoas sem que percebam e sem devida autorização, transformou a fotografia num instrumento que permite burlar certas regras e causar grandes danos. Isso explica a necessidade de esclarecimento bem definido em contrato, o qual deve informar exatamente como imagem de certo indivíduo será utilizada.

Hoje há um enorme número de casos na justiça que exigem indenização por mal uso da imagem, principalmente demandados por aqueles que pretendem ganhar dinheiro com tais processos. Contudo, para ganhar a causa tem que demonstrar o dano causado, apesar do fato de haverem juízes que julgam o simples fato de aparecer na imagem constituir o dano por si.

A autorização para o uso de imagem e o trabalho do fotojornalista:

Prevista no Código Civil Brasileiro, a obrigação de solicitar autorização para uso de imagem das pessoas fotografadas gera polêmica e afeta diretamente o trabalho dos fotojornalistas que se sentem cada vez mais ameaçados e constrangidos.

Em defesa, estes profissionais alegam que a necessidade do pedido de autorização para realização da foto interfere no trabalho, uma vez que prejudica flagrantes e a espontaneidade das cenas. Por isso, a solução desse conflito foi encontrada na elaboração da lei que diz que a imprensa pode utilizar a imagem de um indivíduo sem autorização desde que apresente função social, ou seja, caracteriza-se fato relevante e de interesse público.

Todavia, a enorme quantidade de processos contra fotojornalistas por parte dos “retratados” que visam ganhar algum dinheiro com indenizações, mesmo quando as imagens não representam ofensa à moral, têm prejudicado os fotojornalistas que passam a auto censurarem-se, lesando a vertente investigativa e “denunciativa” de seu ofício.

Esse problema não afeta simplesmente a produção do fotógrafo. Ele atinge a sociedade de uma maneira geral, pois priva as pessoas do acesso ao conhecimento. Vale ressaltar que, quando sai do âmbito da imprensa, é difícil justificar o uso da imagem de alguém.

Direito de informar e interesse público:

A imprensa possui o direito de informar utilizando-se de imagens de pessoas com ou sem sua autorização. Isso é possível, pois, nesse caso, o direito de imagem esbarra no artigo da constituição que garante o direito de liberdade de expressão e de pensamento. Portanto, se for divulgada uma imagem cujo conteúdo apresente cunho jornalístico e informações relevantes para a sociedade, prevalece o direito de informação sobre o de imagem. É importante ressaltar que interesse público e liberdade de imprensa estão diretamente relacionados, uma vez que um sustenta o outro a fim de garantir a liberdade de expressão e o direito que a sociedade tem de conhecer e de se informar acerca dos eventos que a cerca.

Interesse Público:

Não há definição concreta para interesse público, pois esse é um conceito que não apresenta regras e varia de ambiente para ambiente, de lugar para lugar, de país para país. No entanto pode-se afirmar que a liberdade de imprensa só tem razão de existir para atender ao público, facilitando a ele o acesso à informação, que é considerado o instrumento fundamental para o desenvolvimento humano.

Estatuto da Criança:

O artigo 17, garante a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, incluindo a preservação da imagem e o artigo 247, garante punição para quem exibe imagem inteira ou parcialmente e que permita a identificação direta ou indireta da criança ou do adolescente infrator. É permitido, por exemplo, a fotografia de uma criança ou adolescente cheirando cola, pois o assunto apresenta cunho social e interesse público, porém, a imagem deste deve ser preservada de modo que não seja possível o reconhecimento do indivíduo.

A odisséia de Larissa Rosa

13 out

Larissa Rosa, 19 anos, sorocabana, aos domingos toma o ônibus da companhia Cometa com destino a São Paulo, onde reside desde o início deste ano. Estudante da Faculdade Cásper Líbero, ela encara semanalmente o longo trânsito que se forma no caminho da capital. Especialmente no último domingo, tomou o ônibus às 17 e 30 na rodovia Castelinho. Com previsão para chegar em São Paulo, no Terminal Rodoviário da Barra Funda, às 18 e 40, a estudante, surpreendentemente, chegou com apenas dez minutos de atraso, entretanto não imaginava os obstáculos que ainda teria que enfrentar naquela noite aparentemente pacata.

Como toda boa universitária, vinha carregada de bagagens abarrotadas de roupas que havia levado para a mãe lavar e de comidas que trouxera para passar a semana.  Ela transportava uma mochila nas costas e uma bolsa pendurada em cada braço.

Cansada da viagem, Larissa ligeiramente tentou atravessar a catraca que dá acesso ao metrô, porém, ficou presa quando esta não liberou passagem, pois em seu bilhete único contava apenas R$ 1,00. Aborrecida, enfrentou uma fila de aproximadamente oito minutos. Entrou no trem com preguiça das baldeações que ainda teria que fazer até descer na Avenida Paulista e atemorizada com a possibilidade de chegar tarde ao seu destino. Examinou, analisou, procurou e não encontrou nenhum lugar para se sentar. Cada balançada do metrô fazia derrubar uma das bolsas que Larissa carregava, ou tentava carregar.

Desceu na estação Trianon-Masp, na Avenida Paulista por volta das 19 e 30. Assustou-se quando se deparou com a solidão da avenida que, normalmente, nunca dorme. Foi a primeira vez que a estudante encarou a principal via da cidade numa noite de domingo.

Acostumada com a tranquilidade do interior, Larissa sente-se apavorada com as perigosas e alarmantes circunstâncias com as quais pode deparar-se numa cidade como São Paulo. Preocupada, pensou em apanhar um táxi para substituir a caminhada de cerca de dez minutos que ainda teria que fazer. Pensou em comprar um saco de pipoca que um senhorzinho vendia na rua, mas desistiu ao lembrar que o dinheiro estava dentro de uma das bolsas, que não tinha mãos livres para carregar o saquinho e que, claro, a rua estava deserta e assombrosa. Como não encontrou nenhum táxi nos redores, optou por acelerar o passo para chegar rapidamente em sua casa. Seu medo chegou ao ápice quando avistou um grupo de homens conversando em voz alta no meio do quarteirão. Colocou o capuz de seu moletom na cabeça, cruzou os braços e desceu a ladeira da Rua Barata Ribeiro com uma expressão brava, porém corajosa, como se fosse espantar qualquer perigo que eventualmente pudesse aparecer.

Aproximando-se de seu apartamento, Larissa manobrou para encontrar o molho de chaves que estava guardado em uma das mochilas e, aliviada, sentiu-se protegida por ter chegado bem em casa. Girou a chave da porta e ela não abriu. Pensou que havia se confundido e tentou o mesmo movimento com as quatros chaves componentes de seu chaveiro. Estranhou, experimentou-as novamente e a porta não abriu. Desesperada e incrédula, pensou em quebrar o vidro, bater no portão e gritar por socorro. Por um instante, suas esperanças renasceram ao lembrar de Seu Batata, zelador, o qual, porém, já havia se retirado do prédio.  Ela sacou o celular do bolso e ligou para sua mãe na expectativa de encontrar a solução para seu problema. Acatou o conselho de Mira e a primeira medida que tomou foi afastar-se da calçada e procurar um lugar seguro onde pudesse se acalmar e pensar no que faria para resolver a situação.

Do outro lado da rua, avistou um senhor vestido numa camisa verde. Foi ao seu encontro à procura de guarita. Era Seu José Carlos, manobrista do flat localizado em frente ao seu prédio. Foi ele quem a explicou o que havia acontecido: na madrugada de sábado, o inglês, vizinho de Larissa, chegara bêbado e, como não encontrou suas chaves, chacoalhou a porta, quebrou a fechadura, provocando, até mesmo, rachaduras na parede da portaria. Por um lado acalmada pelo fato de saber que não havia ocorrido tentativa de assalto, Larissa começou a lembrar das amigas que poderiam abrigá-la nessa noite conturbada. Para completar, enquanto procurava os números de telefones, José Carlos começou a relatar casos de assaltos já ocorridos na rua, assustando-a novamente.

Ligou para sua colega de quarto, Liz, que também estava para chegar do interior. Larissa explicou a história e apavorou a amiga, fazendo-a pensar que a porta que havia sido quase arrombada era a de seu apartamento. Contudo, ela ainda estava na estrada e levaria mais de uma hora para chegar a São Paulo. Não restava a Larissa outra alternativa a não ser aguardar. Cada pessoa que se aproximava da portaria do prédio despertava nela a esperança de ser um vizinho. Foi cerca de após quarenta minutos de espera que um Fit prateado embicou para entrar no portão da garagem. Entusiasmada, Larissa correu em direção ao motorista e fez gestos para que ele abaixasse o vidro. Embora desconfiado, cedeu e Larissa explicou toda situação. Quando entrou em seu apartamento, agradeceu e “enalteceu” sua casa. Deixou as bagagens de lado e telefonou para os pais, que já haviam mobilizado todos os parentes residentes na capital, para avisar que conseguira entrar em casa. Cansada, Larissa comeu chocolates e adormeceu.

Viagem ao século XXI

8 out

Família Jetson

Família Jetson

O desenho:

O famoso desenho animado Os Jetsons foi criado no ano de 1962 pela dupla Will Hanna e Joe Barbera.

O desenho se passa no século XXI e retrata as aventuras e o cotidiano de uma família comum de classe média. Os Jetsons fazem parte de um mundo futurista, caracterizada por arranha-céus, carros que voam, robôs e aparelhos super modernos que tornavam a vida mais fácil. É basicamente uma inversão de Os Flintstons, peripécias de uma família pré – histórica que vivia na Idade da Pedra.

Originalmente, foram produzidos 24 episódios exibidos em apenas uma temporada de 1962 a 1963. Vinte anos mais tarde, o desenho foi relançado e apresentado de 1984 a 1987 com novos episódios. Em 1962 foi criada, também, a versão em quadrinhos da animação.

Os Jetsons influenciaram desenhos contemporâneos como Futurama, o qual, de certa forma, satiriza o futuro idealizado anos atrás.

As Personagens:

George Jetson: é um pai dedicado que adora passar o tempo com a família, jogar Spaceball com seu filho Elroy e assistir Hill Stars. Funcionário da “Spacely Sprockets”, sofre com o stress diário do chefe Sr. Cosmo Spacely.

Jane Jetson: é dona de casa, mãe e esposa amorosa. Adora fazer compras no shopping e mudar o visual. Prepara, sempre, boas surpresas para a família e procura maneiras para tornar a vida do marido mais simples e menos stressante.

Juddy Jetson: é a filha mais velha, estudante de Biologia nos Cyborgs e Astro Matemático e, como toda adolescente, adora fazer compras e está sempre preocupada com os namoros.

Elroy Jetson: é o filho caçula que adora aventuras espaciais. Estuda na Little Dipper School e é considerado um gênio nas ciências espaciais aos 10 anos de idade.

Rosie: é a empregada robô responsável pelo serviço doméstico da casa. Apesar de seu modelo “fora de linha”, a família é incapaz de trocá-la por um modelo mais moderno devido ao carinho que sente por ela. Representa o sonho de qualquer dona de casa.

Astro: é o cachorro amado da família.

Senhor Spacely: patrão de George e proprietário da Spacely Sprocket Company.

Os criadores:

Willian Hanna, mais conhecido como Bill Hanna, era jornalista e engenheiro e começou a trabalhar como cartunista na Warner Brothers aos 27 anos de idade. Quatro anos mais tarde, foi transferido para o recém criado departamento de desenhos animados da MGM, onde conheceu Joseph Barbera, banqueiro que havia abandonado a profissão para se dedicar à criação de desenhos animados.

Após o fechamento do departamento de animação da MGM, a dupla criou a HB (Hanna-Barbera) Productions, na qual trabalharam durante 41 anos. A dupla “conquistou sucesso numa época em que a animação para televisão era considerada nada realista”. Eles desenvolveram técnicas que possibilitaram a criação de inúmeros desenhos animados em curtos períodos de tempo e filmavam suas criações em cores, o que, posteriormente, facilitou a exibição das animações.

A primeira criação da dupla foi a estória de um gato chamado Tom e de um pequeno e esperto rato chamado Jerry. Com ele, a dupla angariou sete Oscars de Hollywood e 10 prêmios Emmy de televisão. Mais tarde, uma diversidade de personagens surgiu, como Dom Pixote, Zé Colméia, Fred Flintstone, Touché, Manda Chuva, Penélope Charmosa, George Jetson, entre outros que marcaram a infância dos nascidos na década de 1960.

Foi no auge do sucesso da família pré-histórica dos Flintstones que os produtores Hanna e Barbera criaram Os Jetsons: nascia uma família futurística que, em seu cotidiano, interagia com carros voadores, edificações suspensas, tubos de transporte, esteiras elétricas e “comodidades tecnológicas que só o “distante século XXI” traria”. A dupla conseguiu apresentar num desenho animado tecnologias que a década de 60 podia imaginar.

“Era uma vez o futuro: o homem no espaço, supercomputadores, telefones portáteis, a vida ao comando de um botão”:

O século XX, no qual se insere a criação de Os Jetsons, foi marcado por mudanças significativas na questão da tecnologia. Os avanços nessa área proporcionaram conforto material para as pessoas que a ela tinha acesso. Foi o século dos vôos espaciais que expandiram o conhecimento do homem em relação ao universo, da disponibilização de tecnologias como telefone e computadores às massas e, também, do desenvolvimento de armas nucleares e da invenção da Internet. Embora germinado na imaginação dos criadores Hanna e Barbera, a série reproduziu no imaginário da década de 1960, o que seria o tão anunciado século XXI.

Além das grandes perspectivas criadas pela Revolução Industrial, potencial influenciadora da futurologia do passado, a utopia norte-americana de união entre tecnologia e prosperidade, explica, também, a idéia de futuro da década de 60. Após o lançamento do satélite Sputinik pelos russos, as duas superpotências da época, Rússia e Estados Unidos, iniciaram a chamada “corrida espacial”. Na década de 60, os Estados Unidos apontavam como superpotência econômica e militar: era o auge da hegemonia estadunidense sobre o planeta, a qual seria reforçada por sua superioridade tecnológica. Nessa época, os foguetes, o televisor em cores, os videofones, os reatores nucleares e os computadores mainframes eram os últimos triunfos científicos conquistados pelos norte-americanos.

Uma confusão entre ciência factual e ficção científica dominou a imaginação do público da década de 1960. Fantasiava-se que naves espaciais da NASA se transformariam em transportes interplanetários para passageiros comuns que desejassem viajar para outros planetas, arquitetava-se que os reatores nucleares produziriam energia a custos baixos e em quantidades ilimitadas, idealizavam-se máquinas capazes de raciocinar e de sentir emoções como os seres humanos e os computadores, em especial, destacou-se no ideário da população como o ícone da alta tecnologia. Muitas dessas concepções eram motivadas por previsões de cientistas da computação e, cada avanço realizado na área, servia de alimento para a invenção de novas máquinas “incríveis”. Tais idéias são evidentes, também, nas obras de escritores e cineastas do período, às quais contribuíam largamente para sua disseminação entre a massa.

Em geral, em termos de futurismo, o desenho aborda tecnologias de funções práticas, capazes de simplificar e beneficiar a vida das pessoas, além de oferecer comodidade através do consumo de produtos. Os criadores do desenho já imaginavam a necessidade de praticidade de um século que se prima pela eficiência e facilidades oferecidas pelo progresso, contudo marcado por problemas que só o excessivo crescimento tecnológico seria capaz de criar. Percebe-se como parte do cotidiano o sofrimento de George com os congestionamentos de trânsito, a fadiga e a falta de tempo. É notável o stress diário causado pela exigência dos dias de trabalho numa sociedade assinalada pela acirrada concorrência entre empresas que buscam atender à demanda capitalista: nos episódios, George sempre chega cansado do trabalho em busca de momentos de tranquilidade para descansar e aguentar a cobrança do dia seguinte. Percebe-se, também, através do comportamento da mãe Jane e da filha Judy a atitude consumista que marca esse tempo. Em suma, Hanna e Barbera conseguem assinalar com sutiliza as dificuldades que o homem moderno teria de enfrentar.

Algumas das tecnologias imaginadas se concretizaram, outras não; estas, porém, anteciparam conceitos de forma desconcertante:

O modelo de futuro vivido por um adulto dos anos 2000 é muito similar àquele prometido há décadas passadas. O século XXI caracteriza-se pela consolidação da Internet como veículo de comunicação e fator essencial para o fenômeno da globalização de informações. Este século é, também, marcado pela expansão da telefonia fixa e da rede de celulares e pela invenção de tecnologias práticas e sofisticadas como laptops, banda larga, Ipods, Iphones, bluetooth, tvs de plasma, tvs digital, dvds, câmeras digitais, etc. Entretanto, a Internet é a que mais merece destaque. Em Os Jetsons é possível verificar tecnologias que hoje só são concretas graças à ela: no que diz respeito à questão da evolução dos sistemas de comunicações, por exemplo, ferramentas como o Skype e o MSN que possibilitam conversas áudio e vídeo em tempo real, além dos telefones celulares já capazes de exercer essa função, são realidades somente devido aos serviços oferecidos pela Internet. Na animação, a família Jetson se comunicava via videoconferência.

Paradoxalmente, em alguns casos, a velocidade da tecnologia não acompanhou a da imaginação. Hoje, por exemplo, a robotização na indústria é fato, todavia, não imitando humanóides, como elucida a governanta da família Jetson. Apesar de ainda não existirem máquinas com atitudes próprias, como Rose, as pesquisas em inteligência artificial caminham nessa direção; os japoneses, que estão à frente nas pesquisas de robótica, já produzem robôs para diferentes funções. Quanto às “esteiras rolantes”, cuja função é deslocar as personagens pelos cômodos das casas e pelos setores dos ambientes públicos, embora não dominarem as residências, como faz no desenho, estão se estendendo cada vez mais em estabelecimentos como shoppings, aeroportos, supermercados, museus, metrôs, prédios comercias e escolas. Antevisões acerca da gravidade consistem noutro exemplo de ideal ainda não efetivado. Em Os Jetsons, todos vivem em arranha-céus futuristas, enfrentam trânsito em seus carros voadores e se “teletransportam” através de tubos. Os estudos referentes a esse tema ainda são embrionários e a primeira evolução neste sentido foi a descoberta do supercondutor que flutua quando é resfriado a -273 °C. Assim, também acontece com as refeições em cápsulas, as quais ainda representam ficção para os dias atuais.

“Em 1969 nasce o “avô” do e-mail; a primeira mensagem enviada foi pela rede universitária Arpanet. Em 1981 nasce o primeiro computador pessoal, o IBM PC. Nos anos seguintes aparecem no mercado o computador portátil e o telefone celular. No ano de 1991 surge a web, a grande rede www. No fim da década de 90 os dowloads se tornam mais rápidos e nasce o Google, pai de todos os sites. Num curto intervalo de tempo de aproximadamente 10 anos, surgem a banda larga, os notebooks com wi-fi e as trocas de mensagens instantâneas pelo MSN”.

Referências Bibliográficas:

Barbook, Richard, Futuros Imaginários , disponível em http://futurosimaginarios.midiatatica.info/futuros_imaginarios.pdf

http://www.cartoonnetwork.com.br/watch/tv_shows/jetsons/

http://pt.wikipedia.org/wiki/The_Jetsons

http://www.hannabarbera.com.br/jetsons/jetsons.htm

http://www.arcadovelho.com.br/Desenhos_Antigos/80/Os%20Jetsons/Cartoon.htm

http://www.hannabarbera.com.br/hb.php

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hanna-Barbera

Conversas com adultos que assistiam ao desenho e se disponibilizaram comentar a respeito da visão de futuro da época

Como analisar e entender uma imagem: uma leitura semiótica

8 out

Semiótica:

A semiótica foi criada por Charles Sanders Peirce, que formulou uma teoria geral para os signos, definindo-os como “algo que representa alguma coisa para alguém em algum lugar”.

Uma filosofia das significações que adota a mediação como principal questão de análise, a semiótica é a ciência que ajuda a interpretar a imagem e entender como ela transmite mensagens. Seu estudo explica que é o repertório visual e cultural de cada indivíduo que permite diferentes interpretações de uma mesma imagem, além do fato de esta depender do momento sócio cultural de uma sociedade. Por isso, são estabelecidas diferenças entre o significado e o sentido de uma imagem, no qual o primeiro refere-se a uma convenção estabelecida pelo senso comum e o último a algo pessoal e intransferível.

A semiótica tem por objeto de estudo qualquer sistema sígnico, portanto, pode-se analisar semioticamente tudo o que está ao nosso redor, pois, para esta ciência, tudo é passível de interpretação e tem um significado.

A imagem é um signo e, por isso, representa algo e precisa ser lida e decodificada, uma vez que ajuda construir sentidos para aquilo que se observa. Porém, é importante ressaltar que reconhecer um elemento de uma imagem não significa que e a estamos compreendendo e decodificando, pois o ser humano trabalha com formas simbólicas.

O fotojornalismo moderno nasceu com Erich Salomon na Alemanha no ano de 1930. A criação da revista LIFE nos Estados Unidos é um acontecimento que merece destaque, uma vez que caracteriza um momento importante que reiterou o fotojornalismo de guerra no fotojornalismo mundial. A grande reportagem passou a tomar conta das revistas e, por consequência, o fotógrafo passou a ser valorizado como um “contador de histórias”, já que a história passou a ser contada por várias imagens. Nos anos 80, surge um tipo de fotojornalismo engajado e ideológico e nos anos 90, aparece uma época de decadência do fotojornalismo mundial, na qual ele deixa de ser engajado e jornalístico, assumindo função estética publicitária e cineatográfica e a fotografia de imprensa retorna à posição de ilustração. Nas imagens jornalísticas dos últimos anos percebe-se a estética do espetáculo, característica da época atual. Vale ressaltar que apesar de a câmera fotográfica querer atuar como testemunha dos fatos, ela é, na verdade, criação daquilo que imaginamos como queremos que um fato seja representado.

Para a realização deste trabalho, selecionei a imagem de capa da revista Superinteressante como objeto de leitura para uma análise semiótica. A edição é de maio de 2009 e, apesar de trazer como imagem de capa uma montagem que causa impacto pelo paradoxo que representa, possibilita interessante análise semiótica.

Considerações acerca da imagem escolhida:

A priori, a imagem que traz a capa da revista é intrigante pelo fato de apresentar, em letras imponentes, a palavra “DIETAS” inserida na figura de uma barra de chocolate.

Curiosa, aproximei-me da imagem para observá-la de perto. Só assim pude perceber que em cada quadradinho de chocolate que compõe a barra do doce cita o nome popular de dietas inventadas, como “dieta dos pontos”, “dieta do arroz” e “dieta da lua”, intercalados com expressões como “Beverly Hills” e “South Beach”.

Ainda observando de perto a capa da revista, pude notar que a palavra “DIETAS” não é apresentada sozinha, uma vez que vem acompanhada da frase “A farsa das”. A partir de então, comecei compreender o porquê da representação de dieta numa barra de chocolate.

“Comer de 3 em 3 horas? Passar fome depois das 6 da tarde? A maioria das ideias sobre regime não faz sentido algum. Você realmente quer emagrecer? Então pergunte-nos como” é, também, uma frase que compõe a capa da revista.

Foi somente após a completa observação da imagem que muitas ideias surgiram em minha cabeça a fim de compreender seu significado. Neste momento, a partir de uma análise semiótica, pode-se afirmar que ocorreu o uso de meu repertório visual e cultural para a interpretação da imagem.

“É o repertório visual e cultural de cada indivíduo que permite diferentes interpretações de uma mesma imagem, além do fato de esta depender do momento sócio cultural de uma sociedade”:

A barra de chocolates opõe-se fortemente à idéia de dieta, fato que chamou minha atenção num primeiro instante. A leitura das frases que complementam a idéia da capa da revista permitiu melhor compreensão da intenção ali inserida.

Foi o meu repertório cultural e visual que me fez analisar a imagem a partir do contexto da sociedade em que estamos inseridos, a qual possui a característica de impor certos padrões de beleza que devem ser adotados pelos indivíduos para que sejam aceitos no meio em que vivem.

Essa questão gera polêmica à medida que, atualmente, o número de homens e de mulheres insatisfeitos com suas respectivas aparências é alarmante. Tais padrões são ditados pela sociedade capitalista através dos mais diversos meios de comunicação, como revistas e televisão, os quais apresentam modelos magérrimos que induzem os indivíduos acreditarem que só serão bem aceitos em seu meio se apresentarem figura semelhante àquela veiculada na mídia.

A partir da capa é, também, possível afirmar que a reportagem tem como alvo o público feminino, já que o assunto dieta manifesta-se, principalmente, entre esse grupo, devido às inúmeras razões já discutidas nesse texto. Estudos filosóficos afirmam que a forma magra foi rapidamente aceita pelas mulheres pelo fato de que este formato traz no inconsciente feminino um sentido libertador dos contornos arredondados que simbolizavam a maternidade e o papel reprodutor da mulher dos séculos passados.

As consequências dessa “ditadura” da beleza são devastadoras, uma vez que faz os indivíduos esquecerem da natureza do conceito de beleza, além de enfrentarem regimes torturantes que podem acarretar problemas como obsessão pela magreza, pela malhação, pelas cirurgias plásticas, pelos produtos de beleza, pela moda e, claro, pelas dietas. É necessária a conscientização de que são exatamente elas, quando feitas sem acompanhamento médico, sem orientações adequadas, de forma radical e sem necessidade, as principais causas de doenças como bulemia, anorexia, entre outros transtornos alimentares.       Vale ressaltar que o risco de as dietas não surtirem o efeito desejado pelo “praticante” – emagrecer com o intuito de enquadrar-se naquilo que a sociedade considera como belo – é enorme.

Interpretação da imagem selecionada e mensagem que ela pretende transmitir:

É nesse contexto que se insere as expressões inscritas nos quadradinhos de chocolate: “Beverly Hills” e “South Beach” referem-se à lugares populares por sua fama de ser freqüentado por homens e mulheres bonitos que ilustram, exatamente, o modelo firmado pela sociedade; já as “dietas populares” atuam, simultaneamente, como uma expressão alarmante e irônica acerca dos danos que podem trazer. “Vale a pena esquecer a modelo perfeita de outdoor” e “não dá para virar a Fernanda Lima quando o espelho mostrou sempre a silhueta de Preta Gil”, são frases do texto que confirmam tal alegação.

A imagem da capa traz o chocolate mordido. Considero esse elemento como o desejo de incentivar o leitor a negar padrões de beleza estabelecidos e as dietas populares, as quais, muitas vezes, constituem em mitos, e procurarem apoio profissional e apropriado para emagrecer e conquistar a figura almejada. A parte do texto que diz “Você realmente quer emagrecer? Então pergunte-nos como” traz implícita a idéia de que não condena os padrões estabelecidos pela sociedade, já que promove a credibilidade da revista como forma de ajuda confiável para o leitor ou leitora que almeja conquistar o peso desejado. Porém, a partir da leitura do texto, pode-se concluir que o que a revista pretende não é, como pensei a priori, substituir o papel de um “médico”, mas sim alertar os leitores dos perigos das dietas malucas e combatê-las, “detonando” os mitos que elas carregam consigo. As frases “Só vale fazer sacrifício se a questão for de saúde” e “dietas malucas são uma armadilha”, comprovam tais afirmações.

“Na balança, o que interessa é quantas calorias o alimento tem” e “pode comer de tudo”, “é proibido proibir” e “não precisa deixar de comer o que gosta, basta comer menos”, são frases do texto que adicionam à minha interpretação do chocolate mordido, a intenção de transmitir a mensagem de que é permitido comer doce, mesmo durante uma dieta, se as calorias ingeridas neste alimento forem compensadas com o não consumo de outros alimentos muito calóricos, a fim de manter um nível de calorias diárias adequadas.

Após a leitura da reportagem, pude constatar, também, que a matéria enfoca explicações científicas e biológicas a respeito do funcionamento do metabolismo humano e de como o corpo engorda e emagrece; abordagem que careceu na minha interpretação. Também posso afirmar que em minha leitura da imagem faltou tratar a questão da indústria da dieta, ao passo que meu foco voltou-se aos padrões de beleza impostos pela sociedade capitalista e, o da revista, apesar de também discutir esse assunto, deu maior atenção ao mercado das dietas e à indústria alimentícia, as quais atuam na sociedade sob as formas de vendas de livros e de empresas que utilizam esse elemento para promoverem-se. Nesse argumento, mais uma vez a revista mostrou-se disposta a detonar os mitos, alertando para que os leitores portem-se menos ingênuos e resistam à industria das dietas. A leitura do texto confirma, ainda, que minha análise deixou a desejar no que diz respeito à questão da fome como um processo psicológico que envolve, por exemplo, prazer, dificuldades emocionais, biológicas e sociais, insegurança, entre outros.

“Nos anos 90 aparece uma época de decadência do fotojornalismo mundial, na qual ele deixa de ser engajado e jornalístico, assumindo função estética publicitária e cineatográfica e a fotografia de imprensa retorna à posição de ilustração”.

Considerações finais:

Cabe nesta parte do trabalho dizer que concordo com a imagem trazida na capa desta edição da revista, pois esta permitiu uma boa interpretação da mensagem da reportagem. Embora minha análise tenha deixado a desejar em alguns quesitos, posso garantir que foi por precariedade de meu repertório cultural, uma vez que lida a matéria, pude compreender os significados que, a priori, não percebi. Afirmo, portanto, que, se tivesse autoridade, selecionaria, sim, esta imagem para representar a reportagem. Ressalvo apenas para o fato de que ela não traz elementos que induzam o leitor se informar de que o texto apresenta uma notável abordagem científica acerca do funcionamento do corpo humano.

capa da Revista "Superinteressante", maio de 2009

capa da Revista "Superinteressante", maio de 2009

O cotidiano aos olhos de Rubem Braga

7 out

"200 Crônicas Escolhidas"200 Crônicas Escolhidas, jóia de Rubem Braga, é uma reunião das melhores crônicas produzidas pelo autor entre 1935 e 1977, ano de seu falecimento. Baseado na seleção feita por Fernando Sabino, amigo e escritor, foi o próprio Rubem Braga quem escolheu os textos que compõe o livro.

Nascido em 1913, Braga efetivou-se na literatura brasileira, sobretudo como cronista. Para ele, a crônica compunha uma maneira única e complexa de expressar sua visão do mundo e de manifestar certos valores.

Rubem Braga destacou-se na época do Movimento Modernista quando a crônica ainda era considerada um estilo de pouco destaque. Foi ele, oscilando entre narrador de histórias e escritor de revistas e jornais, que atribuiu a essa maneira de escrever um valor antes nunca conquistado.

Rápidas e de fácil assimilação por seu tom de conversa e prosa limpa, ele se inspira nos eventos do cotidiano, especialmente do Rio de Janeiro de seu tempo, acrescentando-lhes ficção e fantasia, inerentes à crônica. Por essa razão, posiciona-se entre o Jornalismo e a Literatura, podendo ser considerado o poeta dos acontecimentos diários.

200 Crônicas Escolhidas apresenta fragmentos de uma “história menor”, distante dos grandes fatos memoráveis, os quais consegue transformar na mais alta poesia. Apesar de retratar a realidade que testemunhou ao longo de sua vida a partir do seu ponto de vista, seus textos encantam pela simplicidade e pela universalidade dos temas abordados.

Utilizando-se de linguagem coloquial num estilo aparentemente humilde e, muitas vezes, bem humorado, ele fala espontaneamente das pessoas, das cidades, das viagens, das mulheres, dos amores, da natureza, dos sentimentos, das inquietações, da infância, da juventude e dos lugares. Sua capacidade de demonstrar o amor pela vida e a preocupação pelos episódios que cercam o dia-a-dia das pessoas explica o interesse despertado no ato da leitura do livro.

A alternativa literária utilizada pelo escritor para descrever os acontecimentos invade o imaginário do leitor, fazendo-o transcender para a situação narrada no livro. Em seu registro da vida, Rubem Braga faz representação temporal dos eventos do passado numa tentativa de recuperá-los ao presente, escapando da “corrosão dos anos”. Somente um escritor com o talento e a sensibilidade de Braga é capaz de explicar o mundo com a clareza, os detalhes e a personalidade que ele faz.